domingo, 16 de junho de 2013

A formação humana através da tecnologia do yoga na educação: 
soluções para as crises do sujeito
-Patrícia-


   It is now high time that we provide knowledge of the knower,
along with knowledge of all disciplas.                                                                     
 Agora é hora de  nós fornecemos o conhecimento do conhecedor,
 juntamente com o conhecimento de todas as disciplinas. —                    
Maharishi (1973)



                                                                              CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

                             Nossa educação ainda reflete padrões de obediência decorrentes do regime militar e de uma industrialização tardia. Padrões  formando homens tecnicistas para virarem massa de manobra social. Todos saem das escolas com seus "corpos dóceis " disciplinados , o que segundo Michel Foucault (1977) nomeou a respeito dos corpos ideais para as exigências modernas em questões de economia , política e guerra: criação de corpos funcionais em fábrica.Esses corpos estão limitados em espaços escolares construídos a semelhança de prisões e hospícios, a fim de vigiar , punir e enfileirar os alunos.
                              Suas mentes vão sendo  atrofiadas com muitos conteúdos de 50 minutos, embotando a capacidade de foco e atenção em um único assunto por mais tempo, ensinando-os partes desconectadas com o todo. Toda essa segmentação seriada do processo acaba por deixar o aluno compartimentado, separado do todo. E vivendo em partes isoladas acaba por perder-se em sua natureza sem saber quem é e o que quer e o que pode fazer. Sem alternativa, fica robotizado e amortecido, e assim, segue o rebanho em série transformando-se em mais uma peça servil da engrenagem.
                             Com tal objetivo educacional, foi - se alienando o homem, ligando-o a uma concepção econômica do capitalismo: o que explica o grau de angustia atual do ser humano.
                             A modernidade cartesiana puxada pelo slogan "Penso, logo existo" superestimou o intelecto no processo de aprendizado esquecendo outros corpos cognitivos importantes do ser humano. E ainda pior que isso, enfatizou a identificação do sujeito com a mente.
                             O desconhecimento do corpo humano como uma metáfora da complexidade não -linear  (Demo,2002) onde pulsa relação própria entre o todo e as partes , contribuiu para a visão de uma aprendizagem como fenômeno linear, onde prevaleceu a transmissão de conhecimento para dominar uma especialização  em detrimento da formação humana.
                            As repetições dessa escola sem vida excluem as grandes questões que movem a vida das pessoas e renega outras importantes faculdades humanas como emoções, sentimentos e instintos.Para barrar a visão newtoniano-cartesiana (Crema, 1988)de um universo fragmentado, instala-se de maneira progressiva um novo paradigma holístico na educação.
                             É urgente a educação recentrar o homem. No fim de sua vida, Jung (EDINGER,1984) declarou claramente a finalidade de a vida humana ser a criação da consciência: " tanto quanto podemos discernir a finalidade única da existência humana é a de avivar uma chama na escuridão do simples ser." Disse que toda a angústia atual é devido à descentralização do homem.Esse centro , chamado pelo yoga de “Consciência Testemunha”, foi a  maior contribuição  que a  tradição do yoga  deu para a humanidade:encaminhá-la à um estado de hiperconsciência.Com mais lucidez, a pessoa torna-se um sujeito ativo,  desenvolvendo melhor seu papel na sociedade tendo uma participação objetiva, pois sabendo-se quem é, aprende-se a fazer.”Potencialmente todo sujeito é não apenas ator, mas autor, capaz de cognição, escolha e decisão”(Morin,2003,p.127)
                             É notório que a tecnologia  material vem abrindo muitas portas para a humanidade e a educação ,porém ,as dádivas  não são todas boas como as pesquisas recentes de ordem física e social do impacto das mídias sociais mostram.
                              á se fala em tecnoestresse,(Schwartsmans,2012 )causado pelo uso excessivo da tecnologia  provocando  dificuldade de concentração e ansiedade. O jovem tecnoestressado também pode tornar-se agressivo ao ficar longe do computador.
Esse mau uso gera danos físicos como obesidade, secura ocular, transtorno de déficit de atenção, entre outros.
Na complexidade atual do ser humano  passando  pela ontologia, psicologia, tecnocorpos sem alma,  mentes em simbiose com as tecnologias digitais, e a inteligência coletiva conectada à nossa mente , é urgente voltarmos o foco para  o desenvolvimento de uma tecnologia  de infra-estrutura humana,alicerçando  nossa capacidade de cálculo,memória , atenção ,coordenação e atividade física por exemplo, além de promover o auto-conhecimento,  pois os computadores já nos ultrapassaram em termos de desempenho mental.
Krishnamurti, citado por Crema (1988), avalia bem o estado atual da sociedade conduzida por esse paradigma:

                                Temos o progresso técnico, sem um progresso psicológico equivalente, e por esse motivo há um estado de desequilíbrio;Um coração vazio mais
                                uma mente técnica não faz um ente humano criador; e como perdemos aquele estado criador, produzimos um mundo extremamente desditoso,
                                talado por guerras, dilacerado por distinções de classes e de raças.Essa transformação radical tem de ser efetivada desde o nível da consciência.

 Sobre a consciência, , Jung (EDINGER, 1984) fala :

                                 No nível coletivo, a consciência é o nome de um novo valor supremo a nascer no homem moderno. A busca da consciência, a "com- ciência" , une
                                 os objetivos das duas etapas anteriores da história ocidental, quais sejam, a religião e a ciência.A religião baseia-se em Eros e a ciência, no
                                 Logos.A era que agora começa a florescer proporcionará uma síntese para essa tese e essa antítese.A religião buscava a vinculação, e a ciência 
                                 buscava o conhecimento.A nova visão de mundo buscará o conhecimento vinculado. ( Edinger,1984,p. 54,55)

                                 Esse conhecimento vinculado  atende a necessidade humana de transcendência que é inerente à vida .
                                 Minha investigação nessa pesquisa abordará o  yoga na educação focando no desempenho humano, as raízes em primeiro lugar:

                                  Deixaremos as gerações futuras tornarem-se macacos apertadores de botões de computador?”É exatamente isso que corre o risco de acontecer
                                  se continuarmos a fazer delas cabeças enciclopédicas que conhecem todos os ramos do saber, mas não as raízes.Reguemos a terra da árvore da
                                  vida, não as folhas! (FLAK ,2007,p.100).



                                 A palavra Yoga, que deriva da raiz  “yuj”, significa unir ou religar,  unindo o ser humano (natureza física)com sua essência  (transcendental),pois o yoga é práxis.
                                  Entende as pessoas como seres humanos integrais, compostos de  corpo físico, mente, energia, emoção, intuição, coração e espírito.
                                  O yoga como método de experimentação científica que estuda o corpo humano e suas reações,  através da prática de sua tecnologia psicoespiritual, responde as nossas perguntas ontológicas além de construir um corpo forte e saudável.
                                  A tecnologia do yoga é psicoespiritual, gira em torno da integridade humana, pois explora o mundo interior da consciência.” Trata-se portanto de uma tecnologia ética que vê o indivíduo humano como um ser multidimensional e, acima de tudo,autotranscendente.” (Feuerstein,2003 ,p.28,29).
                                  Investigarei como a  educação com a tecnologia yogica  poderá suprir esse conhecimento vinculado citado por Jung (Edinger,1984,p. 54,55),  unindo a ciência e o Ser.
                                   Me interessei em me dedicar a essa pesquisa a fim de aliar minha  prática de 12 anos com o yoga, ( dando aulas desde  2003) bem como os benefícios  e transformações advindos dela no meu próprio corpo e na minha vida ,  com as observações que tenho feito no estágio do ensino fundamental na prefeitura, agora que iniciei meu curso de pedagogia, juntando com minhas experiências particulares de ser aluna e professora.Estudando pedagogia agora, quero aproximar o yoga da educação.
No estágio ,tenho notado que as escolas cerceiam muito os movimentos das crianças, sejam colocando-as em carteiras(inadequadas aos seu tamanhos), sejam impedindo suas expressões espontâneas.Percebe-se a indiferença e o desconhecimento das estruturas emocionais e energéticas do ser humano nessas escolas, pois não é dado o devido espaço para serem trabalhados.Visam o intelecto na transmissão de conhecimento e não querem que as outras necessidades (de movimento e emocionais, por exemplo) atrapalhem a aula!Todo movimento e emoção da criança é tratada com indiferença, e na maioria das vezes os professores ao invés de corrigirem os atos das crianças, ameaçam, castigam e intimidam  o sujeito, colaborando assim, com a baixa auto-estima e heteromia dos educandos.Há um clima de opressão estabelecido, o que penso ser um dos motivos do crescente desinteresse dos alunos.
Mas as crianças com suas pulsões exploram  o poder de ação sobre seu corpo como  uma manifestação para serem reconhecidas como sujeitos criadores , "seu desejo então, não é mais de ser reconhecida como objeto, mas também como sujeito, como sujeito que age e é dono de seus atos"(Lapierre e Aucouturier, 1986,p.45).
A presente pesquisa pretende investigar a importância do reconhecimento do sujeito na educação.Também aproximar as concepções que o yoga tem do ser humano à escola, em relação aos seu corpo físico, energético, emocional, mental e espiritual, a fim de serem exploradas novas técnicas e espaços educativos, repensando a escola tradicional, para que o aluno tenha um desenvolvimento integral.Integrar todas as necessidades humanas para a aquisição do conhecimento  se tornar mais legítimo e  prazeroso
Quero também com esse estudo aproximar a visão que o yoga tem do ser humano com autores modernos , e aprofundar a tecnologia da infra-estrutura humana, aumentando-lhe as capacidades cognitivas.
 Esse reconhecimento , acredito  que irá desenvolver-lhes a criatividade, e os envolverá numa educação para conquistarem a liberdade e a autonomia.
Penso  que a educação com a tecnologia yogica levará  o homem ao seu auto-conhecimento e a  se sentir integrado com o planeta onde vive e com todos os seres e raças, pois apesar das diferenças se conectará através daquilo que a todos une:o Ser, em forma de consciência testemunha.
A humanidade ainda está em processo de desenvolvimento, e a educação ainda é a melhor solução para um  presente e futuro melhor.


                                                                                             OBJETIVOS


  -Pesquisar conhecimentos, técnicas, ferramentas e processos yogicos como bases que contribuam para o processo educativo;
  -Comparar as analogias da filosofia e pratica yogica com importantes fundamentos e finalidades ocidentais e mundiais de educação;
  -Investigar dados comprovando os benefícios do yoga para o desenvolvimento humano ;
  -Coletar, analisar e disseminar informações sobre ao yoga na  educação;

                                                                     RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

  - A divulgação em cadernos de pesquisas ;
  - Apresentar a pesquisa  na universidade em forma de AACC;
  - Participar de congressos, simpósios e seminários de educação e tecnologia;
  - Divulgação em revistas especializadas em educação;


                                                                        METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE AÇÃO


Utilizarei :

a-Uma pesquisa bibliográfica de análise de textos  para apresentar uma fundamentação teórica   do conceito filosófico e prático do yoga e para compará-lo com conceitos educacionais ocidentais ;

1-Das crises do sujeito ao seu conhecimento: a introdução e definição  do yoga; 2- Os corpos do yoga e  as inteligências múltiplas na educação;3 - Abordagem holística do yoga e a teoria da complexidade  ; 4-Tecnologias do Yoga; 5- A proposta do R.Y.E.;6-Os condicionamentos e a liberdade em Paulo Freire e no  yoga;7-O yoga e os conceitos de fundamento da educação no Brasil e no mundo; 8-Conclusão.

b-Levantamento de dados  qualitativos através de entrevistas  e depoimentos com professores  que trabalham com yoga na educação aqui no Brasil e no exterior, e com a autora do livro "Yoga na sala de aula", do RYE;


                                                                                CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO







                                                                                                REFERÊNCIAS


CREMA, Roberto. Introdução à visão Holística – Breve relato de viagem do velho

ao novo paradigma. São Paulo: Summus, 1988.

DEMO, Pedro.Complexidade e aprendizagem -a dinâmica não  linear do conhecimento.São Paulo, Atlas, 2002.

EDINGER,Edward F.A Criação da Consciência:O mito de Jung para o homem moderno.São Paulo.Cultrix,1984.

FEUERSTEIN,Georg.A tradição do Yoga-História, Literatura, Filosofia e Prática.

São Paulo.Pensamento,2003

FLAK, Micheline.,COULON,Jacques de.Yoga na Educação:Integrando corpo e mente na sala de aula.Florianópolis:Comunidade do Saber, 2007.

SCHWARTSMAN, Annete.Tecnoestresse causa ansiedade e depressão em jovens.Folha.com.São Paulo,15 de maio,2012.Equilíbrio e Saúde. http://folha.com/no1090127

FOUCAULT,M.Vigiar e Punir.Rio de Janeiro:Vozes,1977

LAPIERRE,André.,AUCOUTURIER,Bernard.A simbologia do movimento:psicomotricidade e educação.Porto Alegre.Artes Médicas,1986.

MORIN, Edgar.A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,200

quinta-feira, 28 de março de 2013

Entrevista com Micheline Flak e Diego Arenaza
São Paulo, março de 2009.



YOGA NA APRENDIZAGEM:

muito além da educação formal


 Uma educação integral, que não se restringe à desenvolver o intelecto e formar bons profissionais para o mercado de trabalho, mas que se ocupe também da formação moral, para que as crianças se tornem adultos mais conscientes e bons de coração. Em resumo, é a isso que a yoga na aprendizagem se propõe. Mas não é só. Ela é uma metodologia, fundamentada na ciência que, de imediato, pode ser uma grande aliada no processo de ensino-aprendizagem.
Discípulo de Micheline Flak, criadora do método, Diego Arenaza é presidente do RYE (Recherche sur le Yoga dans l’ Education) [Pesquisa sobre Yoga na Educação] no Brasil e professor do Centro de Ciências da Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde criou as disciplinas Yoga na Aprendizagem I e II que ensina aos professores o método que utiliza técnicas de yoga na sala de aula, além de ser formado em filosofia pela University of California e mestre em Inglês pela UFSC. Com uma voz serena e baixa, ele me recebe com um sorriso igualmente calmo no rosto, acompanhado de Micheline que veio ao Brasil para ministrar um curso. Todo o ambiente transmite paz e tranquilidade em oposição ao nosso ritmo, geralmente, acelerado. Em poucos minutos, o clima zen me contagia e lá estou, falando baixo e calmamente. A seguir, você confere trechos desse prazeroso bate papo.

Texto: Paula Caires


Como você entrou em contato com essa metodologia, criada pela francesa Micheline Flak, de utilizar técnicas de yoga na aprendizagem?

Diego Arenaza: Eu já era praticante de yoga e professor universitário de Metodologia e Práticas de Ensino de Espanhol como Língua Estrangeira. No ano 2000 comecei essa prática e logo me apaixonei. Eu gostava de yoga e gostava de ensinar, então fui pesquisar e comecei a praticar com meus alunos. Foi tão significativo que logo fiz um levantamento com eles para saber quantos tinham gostado e vi que o yoga para a sala de aula dava lugar a uma disciplina específica. E foi o que fiz. Há seis anos criamos a disciplina yoga na aprendizagem. Ano passado, pela primeira vez, abrimos o nível dois e virou anual. Então, é uma disciplina optativa para todas as licenciaturas. Quando chega a hora da matrícula lota, porque as pessoas sentem que o sistema tradicional de ensino está falindo. Portanto, os alunos têm sede de conhecimentos diferentes e procuram esse tipo de aulas. Além disso, nossa proposta é uma educação holística, integral, e o aluno logo percebe os benefícios, assim como a relação com o professor, que é outra. É fantástico!

Como funciona esse método? Qual é a estrutura utilizada para aquisição do conhecimento?

Diego Arenaza: A técnica que utilizamos em sala de aula inclui uma série de passos que vai preparando o aluno para que a aprendizagem se aprimore. São seis etapas, baseadas nas oito de Pantajali, que vão criar diferentes condições para a aprendizagem. As etapas de Pantajali estão presentes na prática universal de yoga, mas na escola utilizamos só as seis primeiras que são: viver juntos; eliminar toxinas e pensamentos negativos; manter uma postura ereta; respirar bem e ter calma; relaxamento; e concentração em um ponto.

O que seria o “viver juntos”, que é a primeira fase?

Diego Arenaza: É pensar a sala de aula como um barco que está rumo a um objetivo, cujo capitão é o professor. Sabemos que nas escolas existem casos de violências, então, buscamos diferentes dinâmicas para enturmar as crianças e ensinar a viver juntos para que haja paz.

Dê um exemplo de alguma dinâmica que cumpra esse objetivo?

Diego Arenaza: No livro Yoga na Educação: integrando corpo e mente na sala de aula, de Micheline Flak e  Jacques De Coulon (Ed. Comunidade do Saber) tem diferentes práticas de integração. É só criar oportunidades para exercitar a convivência, como o pintar juntos, o trabalhar unidos, atividades nas quais as crianças se toquem, como pequenas massagens, etc. Com um pequeno contato físico, a rejeição e o preconceito diminuem. Um exemplo é a brincadeira do quadro: um aluno é o professor e outro é o quadro. Então, o professor escreve uma palavra com o dedo nas costas do outro amiguinho, mas primeiro, tem que apagar bem o quadro, fazendo movimento de esfregar com as mãos e aí vai escrevendo e apagando as palavras ou as letras, quando o outro descobrir o que foi escrito. Essa atividade também desenvolve a atenção e dá para trabalhar de mil formas, inventando diversas coisas.

E a segunda etapa, que é eliminar toxinas, como poderia ser aplicada em sala de aula e o que ela agrega à educação infantil?

Diego Arenaza: A aprendizagem é um desafio constante e nós estamos na Terra para aprender sempre. Mas para aprender, você tem que ter um atitude positiva. Muitas vezes, a criança diz que está com dor de barriga, mas se a indagamos um pouco, descobrimos que, na verdade, ela vai ter uma prova na escola. Esse exemplo genérico ilustra bem que quando você fica nervoso, com medo acaba ficando doente no físico também. Então, temos que trabalhar esse lado mental de que é possível, e fazê-los acreditar, ensinando-os a superar os obstáculos. Para isso, desenvolvemos pequenas técnicas para desbloquear e limpar a mente. Uma possibilidade é o exercício do lenhador: pedimos à criança que se posicione em pé com as pernas entreabertas, as duas mãos unidas, com os braços levantados, como se estivesse segurando um machado, e fazer o movimento rápido para baixo, como se fosse cortar a madeira que está no chão. O mais importante é a criança soltar a respiração ao descer os braços, junto com um grito, para aliviar aquela tensão e o frio na barriga. Os efeitos são imediatos.

E a etapa três, o que seria e como ela pode ser aproveitada em sala de aula?

Diego Arenaza: É a postura, que tem vários ingredientes. O primeiro é que se você está com a postura reta, vai respirar melhor e seu cérebro vai ser melhor oxigenado. Outra coisa é que se você está torto, daqui a dez minutinhos começa a sentir dor nas costas, e se tem dor nas costas, não consegue prestar atenção. E, finalmente, quem tem uma boa postura, tem uma melhor atitude psicológica. Se você está na vida, como aqueles adolescentes desanimados, que andam corcundas, com os pés arrastando,..isso vai se refletir no seu psicológico. Enquanto que se você tem uma postura mais confiante, você vai refletir essa postura para sua vida também.

Tem ainda a quarta etapa. Como ela se aplica na escola?

Diego Arenaza: Essa é a etapa que diz repeito à boa respiração, que tem uma relação muito estreita com a mente. Quando estamos muito estressados, a respiração fica ofegante. O contrário também é verdadeiro: ao acalmar a respiração, a mente se acalma. Para estudar é preciso ter a mente quieta, não dá para pensar em cinquenta coisas ao mesmo tempo. Através da boa respiração, você consegue ficar calmo. Além do mais, quem respira melhor, vive melhor, afinal, essa é a primeira e a última coisa que fazemos na vida. E tem ainda a quinta etapa que é o relaxamento: acreditamos que deve haver pequenas pausas na aprendizagem para recarregar as pilhas, não se pode ficar o dia inteiro trabalhando, trabalhando sem parar.

Na proposta de ensino integral, isso seria fundamental, então?

Diego Arenaza: Para qualquer um de nós é necessária essa pausa. O relaxamento é vital para todo mundo e em termos da aprendizagem é essencial, assim como para crianças hiperativas. Por exemplo, a criança chega do recreio, acabou de jogar bola, de brincar com os colegas, está até ofegante, suado. A professora chega e diz “calma pessoal, vamos estudar o poema de Camões”. Não tem como! Vai ficar aquela gritaria e os alunos não terão um bom aproveitamento. Entretanto, se você faz uma técnica de respiração e relaxamento, você consegue fazer uma transição, para que a criança fique mais disposta e entre no clima do novo momento que está sendo proposto.

E qual a importância da concentração em um ponto, que é a sexta etapa?

Diego Arenaza: Ela é o ponto culminante. Uma vez que a mente está quieta, tranquila, a assimilação de conhecimento se realiza por diferentes práticas, desde mandalas até às técnicas de visualização, que são muito comuns nessa metodologia. Consiste em aprender por meio dos sentidos internos. Você pode reproduzir internamente uma música, um cheiro, qualquer coisa que remeta aos cinco sentidos.
Então, a gente apresenta uma matéria, faz um pequeno relaxamento, conta uma história e pede para as crianças imaginarem a história em suas mentes, tentando ativar o máximo de sentidos internos, pedindo para pensarem no cheiro, nas cores, nos formatos, nas texturas, enfim, quanto mais sentidos interiores são aplicados no processo de aprendizagem, mais o conhecimento fica sólido.

A história a ser contada nessa técnica deve ser alheia ou atrelada ao conteúdo?

Diego Arenaza: Ao conteúdo. Em vez de usar a memória, reproduz internamente. Se os alunos estão estudando o Amazonas, por exemplo, o professor mostra as fotos, passa as informações e depois da apresentação tradicional, conta uma história de uma viagem a Amazonas e vai descrevendo, enquanto a criança reproduz internamente os cinco sentidos.
                                            
No começo as crianças se sentem inibidas em fazer algum tipo de exercício?

Diego Arenaza: Depende. Em um grupo com estudantes de 6 anos de idade, por exemplo, deve-se trabalhar de uma maneira bem lúdica, porque logo as crianças sentem os benefícios e se aplicam mais. E há uma coisa, em particular, que tem modificado muito minha forma de ensinar, é que o aluno percebe que o professor não está só se preocupando com a matéria, mas também com a pessoa, então o relacionamento é outro e fica mais fácil todos contribuírem para o bom andamento do que é proposto.

Por essa perspectiva, um dos benefícios da yoga na aprendizagem é que ela ajuda a quebrar a frieza da sala de aula?

Diego Arenaza: Exatamente. A aprendizagem é uma relação direta entre o objeto, o conhecimento e um sujeito, tendo o professor como ponte. Normalmente, o educador dá muita importância à matéria, mas se esquece da pessoa que está aprendendo, que é o mais importante, porque se a pessoa não está bem, com dor no corpo, ou triste, ou estressada, como vai aprender bem? Então a gente se ocupa da matéria, mas também do sujeito. Essa é a grande diferença.

Quais são os outros benefícios dessa metodologia para o aluno?

Diego Arenaza: Melhor relacionamento interpessoal, na dinâmica do grupo, na capacidade de concentração, melhora as afirmações e o estado de ânimo. Pequenas doses homeopáticas de exercícios acordam os alunos quando estão “dormindo”, acalma-os quando estão agitados, relaxa-os quando estão cansados e melhora a mente quando estão deprimidos.

Essa prática vai ao encontro da pedagogia do amor, da qual nos fala Paulo Freire?

Diego Arenaza: As coisas estão se interligando sozinhas. Recentemente fui procurado por uma aluna que está escrevendo um trabalho de conclusão de curso de Graduação (TCC)  sobre yoga e Paulo Freire.

Quais são as últimas etapas de Pantajali e porque não são usadas em sala de aula?

Diego Arenaza: Elas estão relacionadas à meditação. Como as escolas públicas brasileira e francesa são laicas e essas duas últimas etapas são relacionadas mais ao espiritual, não as incluímos nas salas de aula. Mas na minha opinião, o que está faltando nas escolas é um trabalho fundamentado em valores, porque hoje a filosofia da educação é a de mercado: educar as crianças para se dar bem profissionalmente, ou seja, baseada no consumo.

Existem vários tipos de yoga? Se sim, qual seria a utilizada na educação?

Diego Arenaza: Basicamente, a yoga é uma só. No entanto, foram desenvolvidas diferentes linhas de prática nas escolas de yoga, algumas são mais dinâmicas, outras tradicionais, mas no fundo, é uma coisa só.

O que é extamente o RYE (Pesquisa da Yoga na Educação)?

Diego Arenaza: É uma associação que ensina, divulga e faz eventos para professores, com objetivo de expandir as técnicas de yoga aplicadas ‘a aprendizagem. É uma linha desenvolvida pela Micheline Flak, na França, que agora está em vários países da Europa, no Uruguai, no Chile e agora no Brasil e tem toda uma metodologia. É uma escola mesmo. A nossa educação é totalmente focada no plano mental. Na proposta do RYE, acreditamos que as pessoas não aprendem com a mente, mas também com o corpo e com as emoções. Porque se o seu corpo está cansado, não tem condições de aprender. Então, trabalhamos a criança como um todo: mente, corpo e emoções, para estabelecer a integração e o equilibrio entre os três. O aluno não é só uma cabecinha ou um dedinho.

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Micheline Flak é doutora em letras, professora de inglês e pesquisadora do Centro de Formação Docente no Centro de Ciências da Educação da Universidade da Sorbonne, em Paris. Ela descobriu os benefícios do yoga na educação durante uma aula, no início dos anos 70, quando utilizou algumas das técnicas realizadas em suas práticas de yoga para acalmar a turma e passar o conteúdo da disciplina. A partir de então, começou a pesquisar e aplicar essa prática como recurso pedagógico e, em 1978, fundou o RYE França e escreveu, em parceria com o professor Jacques de Coulon, o livro Crianças que triunfam. O yoga na escola.
Já cansada, depois de uma longa viagem da França para o Brasil, somado a mais um dia inteiro de curso, Micheline, ainda assim, fez questão de nos atender para contar um pouco da sua experiência na estruturação e aplicação dessa metodologia. Confira a seguir.

Dentre tantos benefícios que a yoga pode agregar à educação, qual você considera o mais significativo?

Micheline Flak: A prática de Yoga é muito boa para a mente e para ajudar as crianças a aprender melhor e, consequentemente, a ter notas melhores, e os pais ficam muito felizes com isso. Esse resultado em notas está relacionado ao coeficiente de inteligência (QI), mas não é o suficiente para o desenvolvimento das pessoas, porque o ser humano não pode ser definido só pelo QI. Existem muitas pessoas inteligentes, que têm mentes brilhantes, mas falta alguma coisa. E o que falta é o coeficiente emocional (QE). O coeficiente intelectual e o coeficiente emocional são duas coisas diferentes. O que podemos ver hoje em dia é que as crianças estão muito distraídas, a violência está cada vez mais presente e as dificuldades de relacionamentos entre as crianças, com os pais, com os professores são marcantes. A yoga pode ajudá-las a controlar suas emoções, seu estresse, sua ira e sua raiva e tudo isso é possível através da respiração, que pode ensinar a se ter calma, relaxamento, controlar as tensões físicas através das posturas e, assim, serem crianças melhores. Então, a yoga não ajuda apenas no aprendizado formal, mas na formação de cidadãos também. A inteligência intelectual não faz um mundo melhor. Às vezes, usa-se a inteligência até para destruir. Eu penso que a yoga pode mostrar que o sucesso não está só no intelecto e ensinar as crianças a ter bom coração. Isso é o sucesso.

Desses 39 anos de yoga na educação, o que você considera como maior avanço?

Micheline Flak: É o fato da yoga estar se espalhando pelo mundo. A cada dia, mais e mais pessoas estão praticando yoga, seja na América do Sul, nos Estados Unidos, na Tailândia e até no Irã. A maioria dos praticantes tem filhos e dizem que se sentem melhor, então, imagine as crianças praticando yoga, que maravilha seria! O que precisa agora é sabedoria.

A que se deve esse sucesso?

Micheline Flak: O medicamento está ao lado do mal. A natureza quer o equilíbrio e a yoga traz esse equilíbrio para o mundo que está pesado, uma selva. O yoga está cultivando na selva. Mas ainda vai se levar um tempo até que o yoga seja implantada oficialmente nas escolas.

O fato de muitos associarem a yoga a uma religião pode ser a razão dela não estar nas escolas?

Micheline Flak: Talvez sim. Mas o yoga não é uma religião. O yoga tem fundamentos cientificos, já foi comprovada a mudança nas frequências das ondas mentais e nas batidas do coração, que a respiração pode causar, pois é ela que regula todos os parâmetros do corpo. Então, não é religião. O que falta é mudar a mentalidade das pessoas que decidem, porque para introduzir o yoga na escola não precisa de nenhuma máquina, nenhum equipamento, gasta-se apenas o suficiente para remunerar algum professor. Só uma coisa é necessária: treinar pessoas.

A prática da yoga na educação pode beneficiar as crianças que têm necessidades educacionais especiais, como quem tem déficit de atenção ou hiperatividade?

Micheline Flak: A hiperatividade está em todos os países industrializados e eu acredito que ela seja consequência da vida agitada dos dias modernos e da tecnologia, que vem se desenvolvendo sem obstáculos, sem resistências, sem nenhuma discussão sobre os efeitos dela sobre a mente. O yoga traz uma correção para isso, porque desperta a consciência, a atenção e a calma ao trabalhar com movimentos lentos.
As crianças hiperativas são ansiosas, principalmente, quando as mães o são. Por isso, quando os pais praticam yoga, é visível que as crianças também se desenvolvem e ficam mais tranquilas.
Nós acreditamos que os médicos possam ajudar essas crianças, mas a medicina não é a única solução. É preciso mudar o estilo de vida, como a alimentação e a capacidade de concentração, que podem ser aprimoradas com o yoga.

Por que a meditação não pode ser usada com as crianças, enquanto o relaxamento é recomendado?

Micheline Flak: Antes de a criança nascer, fica nove meses dentro da mãe. Quando ela nasce, quer conhecer o mundo que está aqui fora, quer dançar como o Michael Jackson (risos)... não me diga que quando você era criança queria meditar? Não, as crianças querem jogar vídeo games, brincar e se divertir e temos que respeitar a energia e a natureza delas. Já o relaxamento pode ajudar quando a criança está nervosa, porque não adianta dizer para ela não fazer isso ou aquilo quando ela está brava. Você tem que esperar ela se acalmar e, então, conversar, fazê-la lembrar o que causou aquela situação de conflito e incentivá-la a refletir sobre o ocorrido para tentar achar uma forma melhor para resolver a questão, ou seja, a criança pode meditar sobre sua conduta, mas não a meditação como é feito na prática de yoga. Ainda assim, o relaxamento com as crianças não deve durar mais que cinco ou seis minutos, porque elas vão fundo muito rapidamente e se for feito por mais tempo é muito difícil fazê-las voltarem. Ou seja, não podemos querer que a criança seja espiritualista, por isso, a meditação não é indicada.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


            A  ESCOLHA  DA  PAZ
 Se a paz é de fato aquilo que desejamos, então devemos escolhê-la. Se ela fosse mais importante para nós do que qualquer outra coisa e se nós nos reconhecêssemos de verdade como um espírito em vez de um pequeno eu, permaneceríamos sem reagir e num absoluto estado de alerta quando confrontados com pessoas ou circunstâncias desafiadoras. Aceitaríamos de imediato a situação e, assim, nos tornaríamos um com ela em vez de nos separarmos dela. Depois, da nossa atenção consciente surgiria uma reação. Quem nós somos (consciência) – e não quem pensamos que somos (um pequeno eu) – estaria reagindo. Isso seria algo poderoso e eficaz e não faria de ninguém nem de uma situação um inimigo.
http://dharmalog.com/2013/02/26/o-que-nossas-acoes-revelam-um-criterio-para-descobrir-ate-que-ponto-nos-conhecemos-por-eckhart-tolle/

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

 PIAGET X VYGOTSKY
Pergunta 1-Piaget diz que a criança é como um explorador do mundo, uma espécie de cientista.PAra Piaget a criança aprende por estar em determinado estágio de maturação de desenvolvimento, para Vygotsky a criança se desenvolve porque aprende.O fato dos instrumentos e signos serem mediadores entre a criança e o mundo, não impediria a criança de criar por ela mesma , atraves de sua experiência direta do mundo, ou seja, os instrumentos não inibiriam o lado explorador da criança uma vez que haveria sempre alguem para estimulá-la?????

terça-feira, 6 de novembro de 2012

6 jovens que estão mudando o mundo pela educação

 

23/10/12 // // //

O mundo hoje torce pela recuperação da jovem paquistanesa Malala Yousafzai, 14, que sofreu neste mês um atentado enquanto ia para a escola por defender o direito do acesso das meninas à educação. O caso de Malala mobilizou autoridades, políticos e gente comum, que tem compartilhado sua foto nas redes sociais. A boa notícia é que a moça não está só. Como Malala, há muitos jovens que estão transformando, cada um a sua forma, o seu entorno pela educação. Alguns, inclusive, estão indo muito além de mudar a realidade local. O Porvir mapeou alguns desses casos de pequenos empreendedores de mentes brilhantes. Confira!
1. Malala Yousafzai, 14
A menina que só queria poder estudar
Malala é uma jovem paquistanesa que, desde muito nova, ficou conhecida por seu ativismo em favor da educação das meninas no distrito de Swat, dominado pelo talebã. Em 2009, então com 11 anos, ela começou a escrever um blog para a BBC em que relatava as dificuldades de viver em uma região onde a violência era algo normal. Na mesma época, o jornal The New York Times produziu o documentário Class Dismissed (Aula Cancelada, em livre tradução), em que mostrava a menina e sua família às vésperas da escola onde estudava ser fechada pelos extremistas. No vídeo, ela e seu pai falam do sonho que a jovem tem de ser médica e de seu medo de ser obrigada a parar de estudar.
Confira o documentário, em inglês (cuidado, cenas fortes de violência).

Em 9 de outubro, Malala sofreu um atentado enquanto ia para a escola. A van em que estava com outras meninas foi interceptada por homens armados e ela foi atingida por tiros no ombro e na cabeça. A menina foi levada às pressas para um hospital local em estado crítico e, tão logo suas condições de saúde permitiram, ela foi removida para a Inglaterra. O talebã confirmou a autoria do ataque e reafirmou que segue com sua intenção de matar Malala e seu pai. Apesar disso, a parte boa é que, segundo a imprensa britânica, o estado de saúde da garota ainda inspira cuidados, mas ela apresenta melhoras consistentes e já consegue ficar de pé. Uma legião de pessoas tocadas pelo que aconteceu com ela tem compartilhado sua foto e sua história nas redes sociais.
2. Brittany Wenger, 17
A jovem que ajudou a diagnosticar o câncer
A norte-americana Brittany Wenger, 17, criou um programa de computador que ajuda os médicos a detectarem câncer de mama. A jovem levou dois anos para concluir suas pesquisas e, em julho, foi a vencedora do 2o Prêmio Google de Feira de Ciências, que condecora pesquisas de jovens cientistas de todo o mundo. Pelo programa, os médicos podem inserir características das células doentes (como aparência, tamanho e espessura) e o app aponta sua probabilidade de malignidade. “Tive casos de câncer na família, especificamente câncer de mama”, diz a jovem à emissora norte-americana ABC. Brittany quer continuar seus estudos e se tornar médica oncologista pediatra. No mesmo vídeo, sua mãe conta que, desde pequena, a menina é questionadora. “Quando ela tinha 3 ou 4 anos, ela sempre perguntava o porquê das coisas. As pessoas diziam que ia passar. Hoje ela tem 17 e continua perguntando.”
Veja entrevista de Brittany à ABC.

3. William Kamkwamba, 25
O menino que dominou o vento aos 14
William Kamkwamba hoje tem 25 anos, mas seus feitos começaram quando ele ainda tinha 14 no Maláui, no sudoeste da África. Em sua TED Talk de 2009, o rapaz conta que seu país sofreu com uma fome muito forte em 2001. Naquele ano, sua família, que vivia de plantar milho, só comia uma vez por dia; ele e seus irmãos desmaiavam com frequência de fraqueza. “Eu olhei para o meu pai e para aqueles campos secos e aquilo era um futuro que eu não podia aceitar”, diz ele.
Mal tendo como sobreviver, seus pais não puderam arcar com as despesas da educação de William, que precisou deixar os estudos. “Mas eu estava determinado a fazer o que fosse possível para nunca parar de estudar”, afirmou. Ia à biblioteca local e lia livros, especialmente de ciências. Em um deles, viu o desenho de um moinho de vento e descobriu que aquela estrutura era capaz de bombear água e gerar eletricidade. Ele buscou os materiais de que precisava em um ferro-velho. “Eu consegui construir minha máquina”, disse o rapaz que, com sua engenhoca feita com partes de bicicleta, canos de PVC e um ventilador de caminhão, conseguiu levar luz à casa de seus pais. “As pessoas faziam fila na porta de casa para carregar seus celulares”, contou.
A história do menino que dominou o vento foi contada na biografia “The boy who harnessed the wind” e inspirou uma onda de outros projetos pela África que buscam levar energia elétrica a lugarejos afastados a partir de mecanismos simples.
Veja TED Talk de William (2009).

4. Daniel Burd, 16
O menino que descobriu bactérias que comem plástico
O trabalho de escola do canadense Daniel Burd, 16, fez a ciência refazer as contas. Sua descoberta transformou os milhares de anos necessários para decompor plástico em apenas três meses. O jovem fez um experimento em que misturava lixo, água e plástico e deixou o tempo agir. Ele percebeu que o plástico estava, de fato, se decompondo muito mais rapidamente que pelo curso natural. Refez o experimento em outros meios e temperaturas e viu que o processo se repetia. Analisando o material, Daniel identificou que as responsáveis pela ação eram duas bactérias.
5. Isadora Faber, 13; e 6. Martha Payne, 9
As meninas que denunciaram suas escolas
A brasileira Isadora Faber, 13, criou a página Diário de Classe no Facebook e virou um fenômeno na internet. A menina começou a usar a rede para denunciar os problemas de sua escola, em Florianópolis. Ela tirava fotos de fios soltos e desencapados, portas quebradas, ventiladores que não funcionavam. A página virou um sucesso instantâneo e hoje tem quase 350 mil apoiadores.
Isadora conta que sua inspiração para criar a página foi a escocesa Martha Payne, 9, que montou o blog NeverSecond para reclamar da qualidade da merenda de sua escola. Com o sucesso da brasileira, muitos outros diários de classes surgiram pelo Brasil e hoje Isadora lidera movimentos em prol da qualidade da educação pública no Brasil.
Veja vídeo feito por Isadora Faber.

(http://porvir.org/porpessoas/6-jovens-estao-mudando-mundo-pela-educacao/20121023)

Com informações do Tree Hugger
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012


ENSINO PARA A COMPREENSÃO. A PESQUISA NA PRÁTICA

Howard GARDNER, PERKINS, David; PERRONE, Vito e Colaboradores


Introdução
Martha Stone Wiske apresenta no livro respostas dadas por professores e a uma série de questões que inquietam professores - Que tópicos valem a pena compreender? O que os alunos devem compreender sobre eles? Como podemos fomentar a compreensão? Como podemos saber o que os alunos compreendem? - descrevendo bases teóricas subjacentes ao marco conceitual do Ensino para a Compreensão (EpC), o processo, os resultados de sua aplicação em sala de aula e as implicações para a formação de professores e transformação da escola, a partir de um projeto prático realizado de 1988 até 1995.

Primeiro define o que vale a pena compreender, organizando um currículo através de tópicos geradores que são centrais, acessíveis e interessantes aos alunos e apaixonem o professor. Segundo, esclarece o que os alunos irão compreender formulando metas de compreensão, focadas em idéias e questões fundamentais à disciplina, claramente explicitadas a alunos, pais e comunidade escolar. Terceiro, estimula a compreensão dessas metas engajando os alunos num processo que os conduza a ampliar, sintetizar e aplicar seus conhecimentos. Quarto, através de avaliações contínuas bem planejadas, mede o que os alunos compreendem.

Como a obra é elaborada a partir de um processo de pesquisa conjunta, apresenta um diálogo contínuo, relacionando teorias pedagógicas à prática. As colocações combinadas dos autores recontam o desenvolvimento, a aplicação e as implicações do marco conceitual do Ensino para Compreensão.

Cada capítulo do livro tem por título uma questão que instigou a pesquisa e a análise, convidando o leitor a interagir em diversos pontos, de acordo com seus interesses.
O livro tem como público-alvo desde pesquisadores em educação, educadores reflexivos, administradores, em especial, os que atuam em escolas de ensino fundamental e médio.
Parte I – Fundamentos do ensino para a compreensão
Capítulo 1 – Por que precisamos de uma pedagogia da compreensão? (Vito Perrone)
Segundo Perrone, há muito perseguimos como meta educacional o ensino para a compreensão, ou seja: o que os alunos aprendem precisa ser internalizado e depois utilizado em diversas e variadas circunstâncias, dentro e fora da escola, sendo a base para um aprendizado contínuo, prolongado e repleto de possibilidades. Entretanto, fracassamos em grande escala na sua implementação, uma vez que nossos alunos não recebem uma educação capaz de transformá-los em pensadores críticos, capazes de apresentar e resolver problemas, de atuar de maneira produtiva em meio à complexidade da vida moderna em constante e rápida transformação.

Ao fazer uma retrospectiva histórica sobre a educação e o ensino, Perrone conclui que o Ensino para a Compreensão (EpC) é quase tão antigo quanto a história da humanidade, vindo de Platão – que ensinava por meio de alegorias elaboradas, passando pelo movimento da “escola comum”, no final do século XIX – que enfatizava a leitura, a escrita e a aritmética, atravessando o “movimento progressista” cujas reflexões e críticas sobre os rumos das escolas iniciaram um importante movimento de reforma, nas palavras de Brooks Adams, historiador e educador norte americano: “Sabendo que você não consegue ensinar tudo a uma criança, é melhor ensinar a ela como aprender”. Estudiosos desse período queriam que os alunos se apropriassem de suas aprendizagens, que as convertessem em algo interno e aplicáveis fora da escola. Nada deveria ser ensinado de forma isolada e o interesse do aluno era crucial.

Neste sentido, Dewey convocava professores a integrar o conteúdo escolar às atividades da vida diária, focalizando a criança e o currículo, ou seja, levando em grande consideração tanto os interesses e intenções dos alunos como as escolhas dos professores quanto a abordagens dos conteúdos, questões e atividades. Defendia que o ensino deveria ser organizado “em torno de temas com amplas possibilidades, acessíveis em muitos níveis de complexidade com conexões naturais com outras áreas de conteúdo”, bem próximo da definição de tópicos geradores defendidos pelo Ensino para a Compreensão (EpC).

Nas décadas de 1960 a 1980, a constatação do fracasso de se prover escolaridade de qualidade para todos, faz surgir várias reformas, embasadas em vários pensadores, entre os quais estava Jerome Bruner que concebia uma abordagem ao aprendizado com sólidas conexões com a vida dos alunos e com suas necessidades de compreender o conteúdo.

Para Bruner qualquer matéria poderia se ensinada para aprendizes de qualquer idade, desafiando a crença de que aprendizes de séries e anos iniciais de estudos deveriam se pautar na construção de habilidades de rotina.
Segundo Perrone, o interesse pelas teorias do Ensino para a Compreensão (EpC) se intensificam no final do século XX, em virtude das críticas à qualidade e igualdade das escolas.

Mais uma vez os críticos convocam alunos a ultrapassarem os fatos, a explorarem as múltiplas possibilidades, a se tornarem solucionadores de problemas e pensadores criativos, a aprenderem como agir a partir de seus conhecimentos.

Ao dirigir o foco para a compreensão, faz-se necessário que os professores procedam de forma sensata ao selecionar conteúdos, tenham clareza com relação aos seus objetivos ou metas e integrem a avaliação ao ensino-aprendizagem.
Qualquer formulação de Ensino para a Compreensão (EpC) deve vencer quatro desafios:
  • Assegurar uma educação de boa qualidade para todos;
  •  Planejar currículos que correspondam a padrões de qualidade e que respondam às necessidades individuais de professores e alunos;
  • Produzir evidências de aprendizagem, de modo que professores e alunos sejam responsáveis pelo seu trabalho;
  • Estimular a busca pela compreensão como meta educacional central.
Segundo Vito Perrone, uma pedagogia da compreensão deve ser suficientemente atraente e flexível para servir a todos os alunos, funcionar em todos os níveis de capacidade e rendimento acadêmicos, engajar a total variedade de possibilidades intelectuais, de modo a aflorar os talentos dos alunos e ser adaptável a todas as matérias e séries. O currículo deve estar relacionado às preocupações, aos interesses e às experiências dos alunos, sendo os professores responsáveis por adaptar diretrizes gerais para atender a seus alunos em particular.

Tal pedagogia pressupõe que os alunos devam construir sua própria compreensão, identificar seus interesses, desenvolver seus argumentos, construir muito mais seu próprio conhecimento que apenas absorver conhecimentos produzidos por outros.

Além disso, deve considerar os professores como principais tomadores de decisão sobre currículo, oferecendo-lhes orientações para escolher o que ensinar e planejar um currículo que irá satisfazer padrões gerais de qualidade, apoiando-os em pesquisas contínuas sobre questões fundamentais como o que ensinar, como ensinar e como saber se os alunos estão aprendendo.
Capítulo 2 - O que é a compreensão? (David Perkins)

Atualmente conhecimento, habilidade e compreensão são ações do mercado da educação e os professores estão comprometidos com a aprendizagem de seus alunos e esperam que os mesmos saibam aplicar os conhecimentos, as habilidades e a compreensão adquiridos no processo.

Mas o que é compreensão? Segundo o autor compreensão é a capacidade de pensar e agir de maneira flexível com o que se sabe. Assim, aprender para a compreensão é como aprender um desempenho flexível.
Um critério de desempenho para a compreensão
Como avaliar a compreensão? Os professores querem não apenas que seus alunos saibam, mas que pensem a partir do que sabem.
Piaget, o psicólogo do desenvolvimento, testou a compreensão de crianças sobre estruturas lógicas básicas ao estabelecer tarefas para elas realizarem, como por exemplo, dispor em série um conjunto de bastões do menor para o maior. Os professores do projeto EpC fizeram atividades similares. A explicação dos alunos revela se entenderam os princípios envolvidos.

A compreensão ocorre, portanto, quando a identificamos através de um critério de desempenho flexível. Entretanto,quando o aprendiz não consegue ir além da repetição, do pensamento e das ações rotineiros, significa falta de compreensão.
Uma visão da compreensão como desempenho
Para o autor, compreender um tópico significa ter um desempenho flexível com esse tópico: saber explicar, justificar, extrapolar, relacionar e aplicar de maneira que vão além do conhecimento e das habilidades de rotina. Assim, um desempenho de compreensão é sempre algo que nos leva além.

Desempenho de compreensão é diferente de desempenho de rotina, porém essa diferença não é absoluta. Conhecimentos e hábitos bem treinados aparecem com freqüência na escola: na gramática, na tabuada, na manipulação de equações de álgebra, na memorização e assim por diante. Nós seríamos profundamente deficientes sem um suporte de repetição e da rotina. Porém a compreensão demanda ir mais adiante.

Desempenho de compreensão não menospreza o desempenho de rotina, porém envolve graus e varia de acordo com as pessoas. Assim, um problema de física que desafie um aluno do ensino médio e possibilite que ele demonstre e amplie a sua compreensão, pode ser mera rotina para um estudante mais graduado. Alunos que compreendem a idéia de um conceito de física podem ter dificuldade com a matemática, enquanto outros que dominam a matemática podem não compreender a idéia.

A compreensão efetivamente se dá em graus: pessoas com mais experiências e desenvolvimento diferentes realmente demonstram maior ou menor insight.
Uma visão representacional da compreensão
Para David Perkins, ver envolve assimilar visualmente, capturar a imagem mental daquilo que vimos. Compreender, como ver, requer alcançar uma representação mental daquilo que vimos. Assim, compreender, como ver, requer alcançar uma representação mental que capte o que deve ser compreendido. Depende, pois, de adquirir ou construir uma representação apropriada de algum tipo – um esquema, um modelo ou imagem mental.

Perkins considera importante ressaltar dois tipos diferentes de representações. O primeiro pode ser chamado de modelo mental – objetos mentais que as pessoas manipulam, processam ou exploram em sua mente. O segundo pode ser chamado de esquema de ação – as representações estão no background, não conscientemente inspecionadas por nenhum olho interno, mas, de alguma maneira, guiando nossas ações.

Como tudo isso se relaciona com uma visão de conhecimento como desempenho? Compreender significa possuir a correta estrutura mental ou representação. Desempenhos são parte do quadro, mas apenas em razão de terem uma representação correta. Uma capacidade de desempenho flexível é um sintoma. Não constitui a compreensão, mas indica a posse da representação apropriada. Por outro lado, a visão de desempenho diz que a compreensão é mais bem vista como constante na própria capacidade de desempenho podendo ou não ser parcialmente apoiado por representações.
Por que preferir uma visão de desempenho em vez de modelos mentais?
Para David Perkins, embora representações certamente tenham um papel importante em alguns tipos de compreensão, é difícil sustentar o argumento geral de compreensões serem representações. Um modelo mental não é suficiente para a compreensão porque ele não faz nada sozinho.

Para desempenhos que demonstrem compreensão, uma pessoa deve operar sobre ou com o modelo. Você pode ter um bom modelo de seu bairro e ainda assim ensinar caminhos errados e imprecisos – esquecer por um momento uma contramão que jamais teria esquecido.

Modelos mentais via da regra são complexos, demandam memória de curto prazo, são difíceis de seguir quando em pensamento, ou difíceis de lidar de outras formas.

Na prática compreendemos a gramática de nossa língua materna sem nenhum acesso explicito às regras que governam o discurso gramatical. Passamos no teste do desempenho flexível. Entretanto, mesmo sendo capazes de realizar todas essas operações que demandam flexibilidade, a maioria de nós não chega realmente a compreender a gramática de nossa língua, uma vez que não se consegue identificar de imediato as regras, analisar sua função, fazer comparações com outras línguas etc. Indica que temos o que poderíamos chamar de compreensão ativa de nossa língua, faltando-nos, porém, uma compreensão reflexiva dela, ou seja, a capacidade de falar sobre a gramática, não apenas de usar gramática.

A compreensão ativa é um tipo de compreensão parcial – até porque ninguém jamais compreende tudo sobre tudo. Assim, a compreensão ativa é um tipo importante de compreensão que não precisa envolver nenhum modelo mental específico. Algumas pessoas têm capacidade musical diária: aprendem a sustentar um tom, cantar ou assoviar arranjos e variações sem nenhum conhecimento de notas, escalas.

Mesmo quando as pessoas têm modelos mentais explícitos muitas de nossas ações não são realizadas sustentadas nelas. Agimos efetivamente com referência apenas ocasional a eles.
Modelos mentais sempre envolvem um determinado ponto de vista e ênfase: eles podem informar, mas também confundir.
Por que preferir uma visão de desempenho em vez de esquemas de ação?
Que idéia de compreensão os esquemas de ação nos oferece? Pode fazer sentido dizer que uma compreensão é um esquema de ação, mas não acrescenta muito além de dizer que uma compreensão é uma capacidade de desempenho.

O esquema de ação seria qualquer coisa necessária para regular o desempenho, nada mais nada menos. Isso poderia ser chamado de uma visão representacional da compreensão, mas se trata de uma noção frágil, uma vez que as pessoas podem ter capacidade de desempenho flexível sem quaisquer representações em algum sentido útil de representação.

Em síntese, a visão representacional é uma tentativa de identificar algo por trás da capacidade de desempenho, algum tipo de representação que permita o desempenho. O desempenho flexível pode ocorrer sem esquema de ação.
Uma visão de aprendizagem e ensino como desempenho
A visão de compreensão como desempenho favorece a aprendizagem processual e estimula aprendizes. Requer atenção, prática, refinamento e, caracteristicamente, envolve múltiplos aspectos que necessitam de coordenação cuidadosa e engenhosa.

Desenvolver a compreensão deveria corresponder a chegar a um repertório de desempenhos complexos. Alcançar a compreensão é menos adquirir algo e mais aprender a agir de forma flexível.

Essa concepção coloca os professores menos no papel de informantes e examinadores do que de facilitadores ou treinadores. Assim, uma aula expositiva ou avaliar com um teste passam a ser atividades de suporte e não atividades centrais. A atividade principal é planejar, apoiar e seqüenciar desempenhos de compreensão.

Essa visão de ensino alinha-se bem com diversas tendências pedagógicas contemporâneas, incluindo o aprendizado cognitivo, a idéia de comunidades de pesquisa e a construção de uma cultura de reflexão nas salas de aula.
Princípios que ajudam a definir o trabalho para o aprendiz e professor:
  • Aprender visando à compreensão ocorre principalmente por meio do engajamento reflexivo em desempenhos de compreensão acessíveis, porém desafiadores.
  • Novos desempenhos de compreensão são construídos a partir de compreensões anteriores e novas informações proporcionadas pelo cenário educacional.
  • Aprender um corpo de conhecimentos e habilidades para a compreensão requer necessariamente uma cadeia de desempenhos de compreensão de desafio e variedade cada vez maiores.
  • Aprender visando à compreensão geralmente envolve um conflito com repertórios mais antigos de desempenhos de compreensão e suas idéias e imagens associadas.
Um tipo de construtivismo
A visão de aprendizagem para a compreensão expressada pelo autor possui clara tendência construtivista, desafiando a idéia de que aprender centra-se em informação. Ele define o papel do professor mais como o de um treinador, e coloca bem no centro os esforços do aprendiz para construir a compreensão.

É uma visão de construtivismo um tanto diferente daquela mais habitual em pelo menos duas maneiras:
1) O que se constrói: representação versus capacidade de desempenho: aprender um tópico com compreensão não é tanto construir uma representação, para corresponder ao tópico, quanto desenvolver uma capacidade de desempenho flexível acerca dele. Aprendizes constroem desempenho, porém é mais natural dizer que eles os desenvolvem ou os elaboram.
2) Como se dá a construção: descoberta versus diferentes desempenhos de compreensão: a descoberta é o desempenho exemplar que não só alcança, mas também demonstra a compreensão. Assim, a fim de uma boa representação mental, os aprendizes têm de descobri-la. A descoberta torna-se o desempenho central da compreensão.
Em síntese, a visão da compreensão como desempenho produz um tipo de construtivismo de desempenho devido a sua maior ênfase em construir um repertório de desempenhos de compreensão em vez de cultivar a construção de representações.
Parte II – O ensino para a compreensão em sala de aula
Capítulo 3 - O que é ensino para a compreensão? (Martha Stone Wiske)
Para a autora uma pedagogia para a compreensão precisa de um marco conceitual guia que aborde as seguintes questões-chave:
  • Que tópicos valem a pena compreender?
  • O que os alunos precisam compreender com eles?
  • Como podemos estimular a compreensão?
  • Como podemos saber o que os alunos compreendem?
O projeto empreendido sobre EpC desenvolveu uma forma de responder às questões por meio de um marco conceitual de quatro elementos: tópicos geradores, metas de compreensão, desempenhos de compreensão e avaliação contínua. Cada elemento aborda uma das questões-chave: define o que vale a pena compreender ao identificar tópicos ou temas geradores e organizar o currículo em torno deles; esclarece o que os aprendizes precisam compreender ao articular metas claras centradas em compreensões-chave; estimula a aprendizagem dos alunos ao engajá-los em desempenhos de compreensão que requerem a aplicação, a ampliação e a síntese do que sabem, assim como monitora e promove o progresso dos aprendizes através de avaliações contínuas de seus desempenhos a partir de critérios diretamente relacionados às metas de compreensão. Em conjunto criam uma estrutura para refletirmos sobre como alinhar mais a prática de ensino aos objetivos educacionais mais importantes.
Tópicos geradores
Um tópico pode ser considerado gerador quando é:
  • Central ao domínio da disciplina. Engaja os alunos no desenvolvimento de compreensões que proporcionam uma base para atividades mais complexas no domínio da disciplina.
  • Acessível e interessante para os alunos. Estão relacionados às experiências dos alunos, varia conforme idade, contexto social e cultural, interesses pessoais e formação intelectual dos alunos.
  • Interessante para o professor. Estimula as paixões intelectuais do professor e servem de modelo de engajamento para os alunos.
  • Relacionável. É facilmente relacionado a outros tópicos, inclusive fora do domínio específico. A investigação geralmente conduz a questões mais profundas.
Metas de compreensão
Definem explicitamente o que se espera que os alunos venham a compreender, ou seja, definem mais especificamente as idéias, os processos, as relações ou questões que os alunos compreenderão melhor durante o trabalho.
Definidas as metas de compreensão fica mais fácil planejar desempenhos produtivos, avaliar o desempenho dos alunos.
As metas de compreensão são mais úteis:
  • Quando são definidas de maneira explicita e divulgada publicamente. Tanto o professor como o aluno, a escola e a comunidade ganham com o processo, uma vez que todos sabem para onde a classe está indo que progressos estão alcançando e o que esforços se fazem necessário para atingir o principal.
  • Quando são seriadas em uma estrutura seqüenciada com submetas que conduzem as metas máximas. Um conjunto seqüenciado de metas de compreensão ajuda a esclarecer as relações entre um exercício especifico e os propósitos mais amplos do curso.
  • Quando são focalizadas em conceitos-chave, modos de pesquisa e formas de comunicação relevantes para que os alunos compreendam a matéria.
O Importante é que as metas de compreensão conduzam alunos e professores a um trabalho significativo, em vez de levá-los a áreas periféricas.
Desempenhos de compreensão
Na pesquisa, várias equipes trabalharam com diversos professores de diferentes disciplinas. Eles identificaram uma progressão de categorias de desempenho planejado para estimular a compreensão, a saber:
  • Exploração (messing about). A exploração proporciona ao professor e aos alunos informações sobre o que já sabem e estão interessados em aprender. Pode ser planejada para engajar alunos no desempenho de suas compreensões e no confronto com alguns dos fenômenos ou enigmas que o tópico gerador apresenta.
  • Pesquisa orientada. Engajam os alunos no emprego de idéias ou modos de pesquisa que o professor vê com centrais para compreender as metas identificadas. Conforme desenvolvem a compreensão de metas preliminares por intermédio de desempenhos iniciais, podem se engajar em formas de pesquisas mais complexas.
  • Desempenhos amplos. Pode ser considerado como o projeto final da unidade, ou seja, o produto final. Em geral incentivam os alunos a trabalhar de modo mais autônomo do que faziam em desempenhos preliminares e a sintetizar as compreensões que desenvolveram ao longo de uma ou de séries de unidades curriculares.
Em síntese, desempenhos de compreensão realizam o seguinte:
    • Relacionam-se diretamente com as metas de compreensão;
    • Desenvolvem e aplicam a compreensão por meio da prática;
    • Utilizam múltiplos estilos de aprendizagem e formas de expressão;
    • Promovem engajamento reflexivo em tarefas desafiadoras, acessíveis;
    • Demonstram compreensão.
Avaliação contínua
Avaliações contínuas baseiam-se em:
  • Critérios relevantes, explícitos e públicos relacionados às metas de compreensão, possibilitam oportunidades para os alunos aplicá-los e compreendê-los antes que sejam usados para avaliar seu desempenho.
  • Acontecem com freqüência, desde o início de uma seqüência curricular até seu final.
  • São conduzidas por múltiplas fontes, por professores, por alunos e entre alunos.
  • Medem o progresso e instruem o planejamento. Enquanto é medido o desempenho dos alunos (olha para trás) tem em mira os próximos passos.
Sintetizando, através da avaliação contínua os alunos aprendem não apenas se realizaram bem um desempenho, mas também como podem melhorar seus desempenhos. Informa ao professor sobre como responder a alunos, individualmente, e à classe, como um todo, ao planejar atividades de ensino subseqüentes.
Integração dos elementos do ensino para a compreensão
Cada elemento do marco conceitual do EpC (tópicos geradores, metas de compreensão, desempenhos de compreensão e avaliação contínua) evoca os demais. À medida que os professores usam o marco para planejar e programar o currículo, o refinamento de um elemento produz mudança nos outros.
A natureza e o papel do marco conceitual
O marco conceitual do EpC fundamenta-se numa definição de compreensão com desempenho criativo, assim a compreensão sempre envolve invenção pessoal e deve ser construída a partir da própria experiência e do trabalho intelectual do aprendiz, não podendo nunca, simplesmente ser transmitida de um gerador para um receptor.

Ainda orienta os professores a revisitar antigas questões sobre o que ensinar, incentiva-os a continuar aprendendo, enquanto desenvolvem tópicos mais complexos e a articular metas de compreensão mais abrangentes.
Incentiva os professores a escutarem mais seus alunos a fim de aprender como estão entendendo o currículo e ajustá-lo, refinando tarefas visando atender aos interesses, a fim de maximizar o engajamento dos alunos em desempenhos de compreensão.
Também orienta no processo de explicitar o desenvolvimento, a comunicação e a aplicação dos critérios avaliativos para que os alunos avancem sua compreensão tão rápida e completamente quanto possível.
Capítulo 4
Como os professores aprendem a ensinar para a compreensão?
(Martha Stone Wiske, Karen Hammerness e Daniel Gray Wilson)

Pesquisadores da Harvard Graduate School of Education, durante os anos iniciais do projeto, que resultou na presente obra, detectaram que aprender a ensinar para a compreensão é, por si só, um processo de desenvolvimento de compreensão. O próprio marco do EpC oferece uma base para orientar o processo. A pesquisa-ação combina apoio para mudança com análise do processo de mudança.

Para as práticas de pesquisa e ensino dos professores o marco conceitual do EpC fundamentou a definição de metas, o apoio aos desempenhos de compreensão e as oportunidades regulares de avaliar e melhorar tais desempenhos.
No decorrer da pesquisa quatro tipos de estágios de compreensão, cada um associado a desempenhos de compreensão específicos:

Compreensão
Identificar os quatro elementos-chave do marco conceitual (tópicos geradores, metas de compreensão, desempenhos de compreensão e avaliação contínua); analisar a prática com referência aos quatro elementos e seus critérios.
Planejamento Planejar unidades de currículo em torno de tópicos geradores, com metas de compreensão explícitas, atividades que engajem os alunos em desempenhos de compreensão e materiais e estratégias para a avaliação contínua.
Implementação Ensinar uma unidade curricular que enfatize os quatro elementos-chave e utilizá-los para a aprendizagem do aluno com foco em metas de compreensão.
Integração Planejar e ensinar uma seqüência de unidades curriculares que leve os alunos a desempenhos cada vez mais amplos. Entretanto, este estágio depende dos outros três e os sintetiza.
A pesquisa demonstrou que ensinar para a compreensão leva tempo, associado a compromisso e suportes contínuos.
Professores e pesquisadores reuniram-se muito para conversar, escrever, planejar, fazer experimentos em sala de aula e refletir sobre as experiências. Ao conversar e escrever sobre a prática com a linguagem do marco, eles desenvolveram a compreensão do EpC. Ao tentar articular tópicos geradores e metas de compreensão, esboçar planos para desempenhos, dois alunos desenvolveram e demonstraram a compreensão do estágio do planejamento. Ao experimentarem seus planos em sala de aula compreenderam o significado do marco conceitual e como implementá-lo.
Relato de prática
Joan Soble - professora de inglês da Cambridge Rindge and Latin High School por 7 anos. Tem 15 anos de experiência.
O começo. Apesar de achar que dava tarefas de escrita interessantes, ela começou a perceber que o curso parecia chato. Conheceu a EpC e queria saber se funcionaria com seus alunos. Teve como parceira de pesquisa Karen Hammerness. Ao conversar e escrever sobre suas metas com Karen, trocar experiências com outros parceiros começou a entender as metas de compreensão.

Entendendo o tópico gerador. Foi o primeiro passo positivo. Escolheu “Escrever sobre um lugar”, pois muitos de seus alunos tinham vindo de outros países, queriam se adaptar e gostavam de escrever sobre eles próprios.

Ela pretendia levar os alunos, a partir de suas experiências pessoais, a pensar e a escrever sobre lugares mais abstratos, como um lugar na sociedade, no futuro e lugar metaforicamente entendido com estado de espírito.

Esforçando-se para definir metas de compreensão. Teve dificuldade de articular o tópico gerador a metas de compreensão claras. Ela não estava acostumada a pensar sobre objetivos para alunos em relação à disciplina redação, isto é, não estava acostumada a planejar o currículo fazendo referencia explicita à estrutura de sua disciplina. Com muito trabalho (ciclos de planejamento de metas preliminares, conversas com a parceira Karen e de reflexão em relação a conceitos-chave na linguagem ela desenvolveu seu entendimento a respeito de metas de compreensão.

Planejando desempenho de compreensão. Propôs que os alunos criassem um mapa, uma colagem visual, como preparação para escrever sobre seu lugar preferido. A seguir pediu que os alunos refletissem sobre seu trabalho, suas escolhas. “Fazer essa colagem parece com escrever um artigo?” Ela percebeu que ao fazer as escolhas de imagens ajudou-os a despertar a memória, formular e articular idéias, fazer escolhas sobre localização, estilo e tom (tanto no trabalho artístico como na escrita). Surge uma inquietação: “a construção de habilidades terá que ser separada de meu currículo de compreensão”. No transcorrer dos estudos ela desenvolveu a compreensão da EpC e ampliou sua capacidade de planejar currículo com esse marco conceitual: as habilidades deveriam ser desenvolvidas no contexto dos desempenhos de compreensão preliminares.

Implementando a avaliação contínua. Ela planejou estruturas de avaliação que informassem aos alunos e a ela também. Eles também continuaram escrevendo portfólios. Ela definiu metas para melhorar a escrita dos alunos com um formulário de estabelecimento de metas. Os alunos escolhiam, ao final de cada unidade, exemplos de escritas para seus portfólios, escrevendo uma capa, descrevendo como o trabalho ilustrava avanço nas metas que havia selecionado.

Repensando as metas de compreensão. Pouco a pouco ela percebeu a importância de explicitar as metas de compreensão para seus alunos. Começou a enumerar metas no topo das tarefas dos alunos. Ela relacionava metas para desempenhos específicos com suas metas para a unidade.
Integrando todo o marco conceitual do EpC. Planejar o currículo já estava mais fácil, os alunos estavam produzindo textos cuidadosos, vigorosos e tocantes. Para Joan o marco conceitual passou a fazer parte da consciência que ela tinha de ensino. Através de implementações repetidas dos elementos do marco conceitual em sua prática, ela estava integrando o EpC em toda a sua abordagem de ensino.

Ajudas e obstáculos. A EpC ajudou a promover e acompanhar a compreensão e a ajustar o currículo às necessidades de seus alunos - alunos em risco de reprovação, historicamente malsucedidos e que se davam por muito satisfeitos quando conseguiam terminar uma tarefa. Compreensão e qualidade de ensino resultam da atenção cuidadosa a quatro áreas importantes (tópicos geradores, metas de compreensão, desempenhos de compreensão e avaliação contínua.) do marco conceitual.
Desenvolvendo a compreensão do ensino para a compreensão
Nesta parte do capítulo, as autoras fazem um relato do trabalho desenvolvido com os professores durante toda a pesquisa.
Para elas, “Os professores demonstraram que aprender a ensinar para a compreensão é efetivamente concebido e mantido como um processo de desenvolvimento da compreensão”.
Inicialmente, fazer o EpC gerador para professores significava vincular suas paixões e ansiedades a esse esforço fundamental de melhoria do ensino, ou seja, atraí-los para o marco conceitual do EpC que atendesse aos interesses e preocupações com o ensino.

A meta explicita da pesquisa era a compreensão do EpC com base no desempenho e os professores deveriam usar os quatro elementos do marco para analisar, planejar implementar o currículo.
A equipe do projeto deu suporte aos professores para a compreensão do EpC, ajudando-os a refinar desempenhos em todos os quatro estágios: compreensão, planejamento, aplicação e integração.

Inicialmente os professores interpretavam os elementos do EpC, em termos que lhe eram atraentes e familiares. Por exemplo, tópico gerador por algumas características foi relacionado ao currículo centrado no aluno, interdisciplinar e autêntico. Quase sempre eles deixavam de lado o critério relativo à centralidade para a área. Na medida em que discutiam sobre metas, desempenho e avaliação, os orientadores de Epc gradualmente formulavam as idéias dos professores na linguagem do marco conceitual do EpC.

Também foi de difícil entendimento para muitos professores o conceito de metas de compreensão que interpretavam como objetivos comportamentais.
Tiveram dificuldade em articular metas, pois os professores tinham assimilado um modelo tácito de valores e metas relativos a conteúdos da matéria, modos de pesquisa e hábitos mentais comuns e individuais dos alunos.
Relativamente fácil para a maioria dos professores foi entenderem o conceito de desempenho de compreensão em termos de compreensão e até mesmo de planejamento curricular.

Uma idéia atraente para a maioria dos professores, a avaliação contínua foi difícil de implementar, pois eles comumente a interpretavam como sinônimo de portfólio ou avaliação de desempenho. A avaliação continua do EpC dá ênfase a critérios explícitos e relacionados a metas de compreensão, uma característica que desafiou a maioria dos professores.

A integração da avaliação continua à sala de aula foi particularmente difícil, uma vez que os alunos não conseguiam avaliar desempenhos quando não entendiam bem os critérios para sua aplicação ou ficavam relutantes ao assumir a responsabilidade intelectual pela crítica ao trabalho de seus colegas e ao seu próprio e ao trabalho. A avaliação contínua alterou ainda equilíbrio de poder e autoridade em sala de aula na medida em que deixou de ser uma ferramenta de controle por parte do professor e passou a ser um processo pelo qual professores e seus alunos conjuntamente aprendiam a empregar critérios explícitos para avaliar e melhorar desempenhos de compreensão.
Importante para os professores, durante todo o processo foi refletir sobre suas próprias experiências com o EpC. Isso a esclarecer confusões, controlar a ansiedade e perceber avanços.

O conceito de quatro estágios ou tipos de compreensão (compreensão, planejamento, implementação e integração) foi de fundamental importância no planejamento de desempenhos para promover o EpC e na análise do que ajuda e do que atrapalha tais desempenhos.
Os professores precisavam compreender como apresentar idéias, responder a perguntas e orientar desempenhos a fim de que os alunos se engajassem com sucesso no desempenho de suas compreensões.
O EpC não é a implementação de um modelo pedagógico padronizado, mas uma pesquisa contínua, idiossincrática..
Ensinar para a compreensão em suas mais completas implementações desafia as normas de muitas escolas.
Ensinar para a compreensão requer de professores e alunos engajamento em pesquisa ativa contínua.
O EpC pode ser levado adiante com sucesso em cenários escolares relativamente tradicionais em que livros didáticos e ensino direto são a norma.
Capítulo 5
Como é o ensino para a compreensão na prática?
(Ron Ritchhart, Martha Stone Wiske, Eric Buchovecky e Lois Hethland)
Este capítulo baseia-se no trabalho com alguns professores a fim de examinar como sua prática exemplifica os elementos do marco conceitual do EpC. As descrições detalhadas dos esforços de professores para interpretar, planejar e implementar o EpC baseiam-se parcialmente em diários reflexivos e relatórios que escreveram sobre sua própria experiência.
Características do ensino para a compreensão
O pano de fundo: compreensão engenhosa em contexto
Interpretar os elementos do marco e adaptá-los a fim de atender às demandas de um contexto específico enquanto expressa comprometimentos, paixões e personalidades únicos do professor é onde reside a engenhosidade do EpC.
Os professores incorporam seus próprios interesses em sua prática de EpC, conferindo a cada classe uma atmosfera diferenciada.
Os bastidores: planejar mudanças
O planejamento do professor funciona dinamicamente entre os elementos do marco. Por intermédio dessa interação dinâmica, os professores avançam e retrocedem entre os elementos e critérios do EpC, estreitando as relações entre metas, desempenhos e avaliações nos planos de currículo.
A ação: aplicação e integração.
Via de regra, os professores apresentam ao aluno o tópico gerador por meio de uma exploração aberta inicial, discussão ou tempestade de idéias. Direcionam os alunos a temas, questões e compreensões centrais. Por intermédio de pesquisa orientada, focalizam a atenção dos discípulos e apóiam seus desempenhos com tarefas estruturadas e avaliações contínuas frequentemente realizadas em grupos pequenos. Conforme desenvolvem conhecimentos e habilidades, o trabalho vai se tornando cada vez mais complexo, aberto e auto-orientado. Frequentemente concluem uma unidade curricular com um desempenho amplo que cada aluno desenvolve de modo mais independente.
Dois exemplos práticos:
  • Uma aula de física em uma escola de ensino médio

A escola de Eric, professor de física, a Belmont High School, focalizava a preparação de sua população de aproximadamente 750 alunos para universidade no âmbito de um currículo rígido, adotando uma pedagogia “bastante enraizada em um modelo de transmissão tradicional”.
O pano de fundo: tornando claras as prioridades
“Refinar e esclarecer o que mais desejaria que meus alunos fossem capazes de realizar, depois organizar minha prática de ensino de maneira que focalizasse diretamente o cumprimento dessas metas”.
Eric começou revendo aspectos problemáticos de sua prática. Seus alunos estavam aprendendo conhecimento factual e tinham pouca experiência em pensamento científico.
Trazer à tona aquele esquema mais amplo (pensamento científico), exigiu de Eric a construção de um modelo de pensamento científico que ele pudesse articular com seus alunos e empregar como um guia no planejamento.

           
Seu modelo aproveitava-se da “natureza recursiva da pesquisa científica” que flui entre inferências intuitivas embasadas em observações iniciais e a construção de teorias para explicar e prever. Os alunos adentravam o processo de pesquisa tanto com experiências quanto com teorias ou modelos tácitos que construíam em um ciclo de refinamento contínuo com base em novas informações e intuição crescente.
Os bastidores: planejamento e preparação
O plano de currículo de Eric ilustrava o avanço dos desempenhos descritos anteriormente: exploração, depois pesquisa orientada conduzindo a um desempenho amplo.
Exploração
Sessão de tempestade de idéias: ele deu aos alunos 10 minutos para apresentarem uma lista de 20 máquinas comuns e uma lista de cinco características essenciais dessas máquinas. A partir da listas de cada grupo conduziu uma discussão sobre sua organização em categorias. Os alunos buscavam generalidades em suas listas e tentavam distinguir relações. Com debates e refinamentos de suas idéias, eles desenvolveram uma lista de trabalho de “critérios de máquinas”.
Alem dessas questões diretivas, Eric apresentou um folheto que fornecia uma visão geral de toda a unidade sobre máquinas e as metas de compreensão para cada essa unidade. Embora inicialmente algumas metas não fizessem sentido para os alunos, elas preparavam a base para o estudo futuro.
Pesquisa Orientada
Ao ajustar suas metas de compreensão a sua meta maior de fazer os alunos pensarem como cientistas, Eric os envolveu em uma investigação de duas semanas sobre um aparelho de alavanca ajustável simples.

Quadro sobre alavancas: escopo e seqüências
Dia 1 Inicio da unidade, tempestade de idéias, sessão sobre máquinas
Dia 2 Exploração em grupos com o aparelho da alavanca
Dia 3 Exploração guiada: coleta de dados e construção da teoria
Dia 4 Construção da teoria e organização dos dados para relatórios
Dia 5 Escrita das versões iniciais dos relatórios
Dia 6 Escrita dos esboços
Dia 7 Revisão pelos pares dos primeiros esboços dos relatórios
Dia 8 Preparação dos esboços finais
Dia 9 Refinamento dos esboços finais
Detalhamento da pesquisa:
Os alunos anotaram suas ideias, perguntas, teorias e dados num livro de registro e produziram um relatório final onde apresentariam sua teoria com evidências de apoio e uma nova aplicação.
Conforme os alunos começavam a explorar o aparelho e a juntar dados, Eric avaliava seu progresso e os questionava a fim de ajudá-los a organizar seu raciocínio e articular suas idéias.
Desempenho Final
À medida que o trabalho dos alunos avançava, e sua compreensão sobre alavancas se desenvolvia, modificava-se o foco de seu trabalho. Eles passavam da experimentação e construção da teoria para a ciência e o desenvolvimento de um desempenho final, que consistia em uma apresentação escrita de sua teoria com evidências de apoio e aplicação. Trabalhando a partir de uma lista de perguntas e de auto-avaliação, os alunos geraram relatório preliminar para revisão dos pares. Conforme avaliavam os relatórios preliminares de outros grupos, perceberam a necessidade de inclusão de evidências de apoio e esclarecimentos em seus próprios relatórios. Ao responderem a revisão dos pares em seus livros de registro, os alunos justificaram aceitar ou rejeitar a retroalimentação crítica que receberam

  • Uma aula de história em uma escola de ensino fundamental

Lois, professora de humanidades muito experiente, e com uma forte visão da compreensão como desempenho. O marco conceitual do EpC era compatível com sua prática de ensino, pois ela a organizava em torno de tópicos geradores há anos e tinha uma extensa experiência no planejamento de projetos de currículos. Ela tinha restrições em relação à ênfase do marco no estabelecimento de metas, pois temia que elas pudessem reprimir sua criatividade enquanto professora. Mesmo assim ela desejava explorar como o marco se associava a seu ensino e o ampliava.

Ela trabalhava numa escola que oferecia um ambiente propício para a inovação ao promover a colaboração entre professores, organizar currículo em torno de temas centrais que estimulavam currículos interdisciplinares e planejar blocos de horários letivos que variavam de 45 minutos a duas horas. Seus alunos estavam habituados a trabalhos interdisciplinares, com base em projetos e eram geralmente bem preparados, motivados e apoiados.
Sua abordagem de ensino era bastante embasada em pesquisa, envolvendo a construção de significados por parte dos alunos e demonstrações de compreensão por meio de projetos interdisciplinares.
Resumo do projeto de Lois
O projeto desenvolveu a “compreensão dos alunos sobre a influência das personalidades da história colonial e sobre os pontos de vista que tais indivíduos proporcionam sobre o período”. Tal projeto relacionou-se diretamente às metas de compreensão de Lois tanto para a unidade quanto para o ano e incorporou desempenhos dos alunos individualmente e em grupo. Incentivou:
  • a autoria dos alunos ao exigir que escolhessem seu objeto de estudo;
  • a profundidade ao proporcionar tempo suficiente para realizar pesquisas e explorar idéias;
  • a interpretação reflexiva ao pedir aos alunos que situassem os indivíduos estudados na cultura do passado enquanto os relacionava com questões atuais.
A presença constante da avaliação contínua e da auto-avaliação ajudou os alunos a internalizar padrões, ao mesmo tempo em que se configurava como um trabalho em curso e permitiu a Lois atender às necessidades tanto dos alunos, individualmente, quanto da classe.
As três fases de ensino apoiaram cuidadosamente a compreensão e os desempenhos dos alunos enquanto estudavam o tópico gerador de aprender história por meio de pesquisas de biografias individuais.
Analisando o ensino para a compreensão na prática dos professores
Segundo os autores do texto, os exemplos analisados comprovam que para aplicar os elementos e os princípios do EpC em sala de aula, os professores devem compreender como adaptar os seus planos de currículo, considerando a evolução das compreensões dos alunos e ajustando as avaliações a fim de apoiar e desafiar todos os alunos, individualmente e a classe como um todo. É um processo interativo que implica considerar o contexto, planejar currículo e ajustar a prática em resposta aos alunos.
O pano de fundo: compreensão engenhosa em contexto
O EpC não é simples nem prescritivo. Os professores devem incorporar o processo à situação peculiar de suas escolas, ao clima de suas salas de aula, às disposições e ao grau de preparação de seus alunos, às exigências do currículo e a sua própria compreensão e experiência.

Quando professores chegam a esse nível de integração, as unidades de EpC que já aconteceram podem ter um foco bem diferente das unidades posteriores, uma vez que no início do ano as unidades curriculares enfatizam o desenvolvimento de processos, habilidades e hábitos mentais na área de estudo e, em unidades posteriores, os alunos aproveitam-se dessa base e avançavam mais rapidamente nas explorações de conteúdos, bem como os professores com vistas a tornar mais explicitas para seus alunos suas metas finais de curso.
Nos bastidores: mudanças de planejamento
Todos os professores no projeto julgaram útil examinar suas próprias prioridades, crenças e compreensões de suas matérias.
Na prática, eles utilizaram uma variedade de estruturas, mecanismos e aparatos para dar suporte ao EpC: formulários de avaliação, perguntas a considerar e formulários de tarefas foram muito usados pelos professores de EpC a fim de expressar as metas de uma unidade, para estruturar os desempenhos dos alunos e esclarecer critérios de avaliação.
A ação: estratégia de aplicação e integração
Para os autores, professores que trabalham com o marco conceitual do EpC acreditam que devem articular submetas em suas metas máximas e engajar os alunos em uma progressão de desempenhos que os leve a desempenhos de compreensão cada vez mais sofisticados.

Embora as pesquisas tenham mostrado ser a seqüência de trabalho, conforme os exemplos acima (de Eric e Lois) particularmente eficazes, o EpC não precisa ficar limitado à aprendizagem com base em projeto. Outros professores usaram seqüências de desempenhos mais graduais para construir paulatinamente níveis mais sofisticados de compreensão. Alguns dos que focalizaram o desenvolvimento da compreensão de conceitos abstratos enfatizaram o desenvolvimento inicial de imagens mentais, seguido do engajamento em desempenhos de compreensão. 
Ponto central ao EpC é a manutenção do foco nas metas de compreensão durante todo processo, a fim de que o projeto não se torne um fim em si mesmo. Isso requer um diálogo contínuo com os alunos em que os professores tornam explícitas suas prioridades e expectativas.
Parte III - A compreensão dos alunos em sala de aula
Capítulo 6 - Quais são as qualidades da compreensão?
(Verônica Boix Mansila e Howard Gardner)
A principal meta deste capítulo é introduzir o marco conceitual como ferramenta reflexiva, focalizando dois tópicos e desempenhos de compreensão ideais. Propõe a utilização do marco de compreensão como ferramenta para sistematizar a avaliação dos desempenhos exemplares.
Examinando a compreensão dos alunos
A qualidade de compreensão dos alunos reside em sua capacidade de usar de modo produtivo conceitos, teorias, narrativas e procedimentos, ou seja, deveriam fazer uso do conhecimento para se engajar em um repertório de desempenhos valorizados pela sociedade: criar produtos, contar histórias, resolver problemas, fazer julgamentos e transformar sua vida diária.
Assim, os alunos podem pôr em prática sua compreensão em:
  • Áreas como comércio, esportes, ou artes, cujo ensino está focalizado no desempenho dos aprendizes.
  • Disciplinas mais acadêmicas – história, matemática e ciências onde o ensino, historicamente, tendeu a enfatizar o acúmulo de informações, nas quais  o aluno deve dominar acontecimentos e informações.
Sistematizando qualidades de compreensão.
Segundo os autores, o marco conceitual apresentado neste capítulo está enraizado em concepções de estudiosos, filósofos, cientistas e psicólogos, intelectuais eminentes que colocaram seus conhecimentos na busca da compreensão.
Quatro dimensões da compreensão
Objetivando retratar as qualidades da compreensão, o marco conceitual destaca quatro dimensões da compreensão: conhecimento, métodos, objetivos e formas e suas características:
Conhecimento Métodos Objetivos Formas
a) Crenças intuitivas transformadas: até que ponto os desempenhos dos alunos mostram que teorias e conceitos autorizados na área transformaram suas crenças intuitivas? a) Ceticismo saudável: até que ponto os alunos demonstram um ceticismo saudável em relação às suas próprias crenças e ao conhecimento derivado de fontes como livros didáticos, opiniões das pessoas e mensagens da mídia? a) Consciência dos objetivos do conhecimento: até que ponto os alunos percebem questões essenciais, objetivos e interesses que dirigem a pesquisa na área? a) Domínio de gêneros de desempenho: até que ponto os alunos demonstram domínio dos gêneros de desempenho nos quais se engajam, como escrever relatórios, fazer apresentações ou preparar o cenário para uma peça?
b) Redes conceituais coerentes e ricas: até que ponto os alunos são capazes de raciocinar no âmbito de redes conceituais ricamente organizadas, transitando com flexibilidade entre detalhes e visões gerais, exemplos e generalizações? b) Construção do conhecimento na área: até que ponto os alunos usam estratégias, métodos, técnicas e procedimentos semelhantes àqueles usados por profissionais da área para construir conhecimento confiável? b) Múltiplos usos do conhecimento: até que ponto os alunos percebem uma variedade de usos possíveis para aquilo que aprendem? Até que ponto os alunos consideram as consequências do uso desse conhecimento? b) Uso eficaz de sistemas de símbolos: até que ponto os alunos exploram diferentes sistemas de símbolos de modo eficaz e criativo para representar seu conhecimento – por exemplo, usar analogias e metáforas, cores, formas, movimentos?
8) Validação de conhecimento na área: verdade, bondade e beleza dependem de afirmação de autoridade, ou, ao contrário de critérios publicamente acordados, como o uso de métodos sistemáticos, fornecimento de argumentos racionais, tessitura de explicações coerentes e negociação de significados por meio de dialogo cuidadoso? c) Autoria e autonomia: até que ponto os alunos evidenciam autoria e autonomia para usar o que sabem?
Até que ponto os alunos desenvolveram uma posição pessoal acerca do que aprenderam?
c) Consideração da audiência e do contexto: até que ponto os desempenhos dos alunos demonstram uma conscientização em relação à audiência, como seus interesses, necessidades, idade, experiência ou antecedentes culturais?
Até que ponto eles demonstram consciência do contexto de comunicação?
Quatro níveis de compreensão
Como a profundidade da compreensão pode variar em cada dimensão é necessário distinguir desempenhos mais fracos e mais fortes. Em decorrência disto, os autores caracterizaram quatro níveis de compreensão: ingênuo, principiante, aprendiz e avançado.

Desempenhos de compreensão ingênuos
Fundamentam-se em conhecimento intuitivo, os alunos não percebem a relação entre o que aprendem na escola e suas vidas diárias, não consideram os objetivos e usos da construção do conhecimento. Não refletem as formas nas quais o conhecimento é expresso ou comunicado aos outros.
Desempenhos de compreensão principiante
Fundamentam-se em rituais e mecanismos de teste de escolarização. Começam a interpor alguns conceitos e idéias disciplinares, a fim de estabelecerem conexões simples. Retratam a natureza e os objetivos da construção do conhecimento, assim como suas formas de expressão e comunicação como procedimentos mecânicos detalhadamente, cuja validação depende de autoridade externa.
Desempenhos de compreensão de aprendiz
Fundamentam-se em conhecimentos e modos de pensamento disciplinar, demonstrando uso flexível de conceitos e idéias. A construção do conhecimento é vista como complexa, seguindo procedimentos e critérios empregados por especialistas da área. Com apoio destacam a relação entre o conhecimento disciplinar e a vida diária, examinando oportunidades e consequências de usar esse conhecimento.
Desempenhos de compreensão avançada
São fundamentalmente integradores, criativos e críticos. Os alunos são capazes de transitar com flexibilidade entre dimensões, relacionando os critérios pelos quais o conhecimento é constituído e validado em uma disciplina de acordo com a natureza de seu objeto de estudo ou aos objetivos de pesquisa na área. A construção do conhecimento é complexa, dirigida por estruturas e visões de mundo conflitantes. Os alunos podem usar o conhecimento para reinterpretar o mundo e atuar nele. Podem refletir a consciência crítica dos alunos sobre a construção do conhecimento nas áreas, ou seja, compreensão multidisciplinar: capacidade de combinar disciplinas em desempenhos de compreensão interdisciplinares.
Conclusão
Recontextualizar o conhecimento nas disciplinas como ferramenta requer:
  • Mudança no foco: de fatos isolados sobre o mundo para redes de conhecimentos.
  • Que as pessoas percebam o conhecimento como construção humana fundada em métodos e critérios, o que os torna confiáveis.
  • Atenção para com os objetivos que motivam a investigação sobre problemas específicos e os usos que se possa fazer do corpo de conhecimento resultante.
  • Que as pessoas encontrem formas de comunicar e compartilhar conhecimentos.

Capítulo 7 - Como os alunos demonstram sua compreensão?
(Lois Hetland, Karen Hammerness, Chris Unger e Daniel Gray Wilson)

Neste capítulo, os autores usam o marco conceitual da compreensão com a finalidade de responder as três perguntas. Utilizam farto material da pesquisa para tanto.
1) Como é a compreensão dos alunos em classes de EpC?
Fundamentados nas pesquisas, os autores detectaram que a compreensão é muito difícil de perceber, revela-se em fragmentos, parecendo mais uma tese construída a partir de evidências do que um fato conclusivo, além de ser um sistema dinâmico e ter aparência multifacetada.
Assim, a compreensão tem uma aparência variada, possui diferentes dimensões e se revela numa variedade de situações planejadas e espontâneas.

Os professores reportam que desempenhos e reflexões espontâneas foram acréscimos às evidências de compreensão reunidas a partir de desempenhos planejados e formais e deram oportunidade aos alunos de relações inovadoras entre contextos disciplinares e pessoais.
2) Como podemos avaliar os produtos dos alunos com vistas a uma compreensão profunda?
Ao analisar os produtos dos alunos e relacioná-los às dimensões das disciplinas acadêmicas, os pesquisadores conseguiram respeitar e valorizar pontos fortes e fracos, detectar que eles demonstram, para cada dimensão, vários níveis de experiência que podem servir de bases para esforços posteriores ou alvos a serem desafiados, pois ao perceber que já compreendem grande parte, podem ir além.
3) Como professores podem usar avaliações dos trabalhos dos alunos para promover uma compreensão ainda mais profunda?
Embora poucos professores tenham feito uso do marco para fins de avaliação, no decorrer da pesquisa, alguns passaram a utilizá-lo para planejar e avaliar metas de compreensão objetivando atingir a total extensão da compreensão que as dimensões sugerem.
Os alunos, nas salas de EpC reportaram satisfação pela clareza proporcionada pelos elementos do marco conceitual, como metas de compreensão e avaliação contínua.
Capítulo 8
O que os alunos compreendem em classes de EpC?
(Karen Hammerness, Rosario Jaramillo, Chris Unger e Daniel Gray Wilson)

Neste capítulo, os pesquisadores analisam o que os alunos compreendem nas classes de EpC, por meio de três questões norteadoras: Até que ponto os alunos atingiram bem as metas de compreensão que seus professores estabeleceram? Alunos em algumas classes desenvolveram compreensões mais profundas que outros? Em caso afirmativo, como essas classes se comparam? O que pode responder por quaisquer diferenças nos desempenhos dos alunos em uma classe e entre classes?
A maior parte da análise baseia-se numa entrevista com alunos de uma unidade de EpC, quadro abaixo:

Protocolo inicial de entrevista com alunos
  • Conte-me sobre o trabalho ou projeto que você recentemente concluiu. Há algo nele que tenha gostado realmente? Há algo de que não gostou?
  • O que você aprendeu – se aprendeu algo – ao fazer isso?
  • Alguma coisa que o professor fez o ajudou a aprender isso, ou você chegou a isso por conta própria a partir de outras aulas?
  • Algo que você fizera em aula o ajudou a aprender isso?
  • O que acha que o professor queria que você aprendesse ao realizar esse projeto? Qual foi a razão para fazer isso?
  • Existem coisas que você acha que o professor quer que compreenda nesse projeto? Ao longo das aulas até agora?
  • O professor tinha essas metas de compreensão (mostra ao aluno as metas para a unidade e para o ano). Você as reconhece? Algumas pessoas acham que conhecer as metas de compreensão de uma classe é útil, e outras pensam que não ajudam tanto. O que você acha?
  • Escolha uma meta que você acha que compreende. Fale-me de sua compreensão sobre ela. Escolha outra meta sobre a qual gostaria de falar e me conte sobre sua compreensão dela. Escolha uma meta que sente não ter compreendido bem e fale sobre a razão pela qual não a compreende.