domingo, 16 de junho de 2013

A formação humana através da tecnologia do yoga na educação: 
soluções para as crises do sujeito
-Patrícia-


   It is now high time that we provide knowledge of the knower,
along with knowledge of all disciplas.                                                                     
 Agora é hora de  nós fornecemos o conhecimento do conhecedor,
 juntamente com o conhecimento de todas as disciplinas. —                    
Maharishi (1973)



                                                                              CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

                             Nossa educação ainda reflete padrões de obediência decorrentes do regime militar e de uma industrialização tardia. Padrões  formando homens tecnicistas para virarem massa de manobra social. Todos saem das escolas com seus "corpos dóceis " disciplinados , o que segundo Michel Foucault (1977) nomeou a respeito dos corpos ideais para as exigências modernas em questões de economia , política e guerra: criação de corpos funcionais em fábrica.Esses corpos estão limitados em espaços escolares construídos a semelhança de prisões e hospícios, a fim de vigiar , punir e enfileirar os alunos.
                              Suas mentes vão sendo  atrofiadas com muitos conteúdos de 50 minutos, embotando a capacidade de foco e atenção em um único assunto por mais tempo, ensinando-os partes desconectadas com o todo. Toda essa segmentação seriada do processo acaba por deixar o aluno compartimentado, separado do todo. E vivendo em partes isoladas acaba por perder-se em sua natureza sem saber quem é e o que quer e o que pode fazer. Sem alternativa, fica robotizado e amortecido, e assim, segue o rebanho em série transformando-se em mais uma peça servil da engrenagem.
                             Com tal objetivo educacional, foi - se alienando o homem, ligando-o a uma concepção econômica do capitalismo: o que explica o grau de angustia atual do ser humano.
                             A modernidade cartesiana puxada pelo slogan "Penso, logo existo" superestimou o intelecto no processo de aprendizado esquecendo outros corpos cognitivos importantes do ser humano. E ainda pior que isso, enfatizou a identificação do sujeito com a mente.
                             O desconhecimento do corpo humano como uma metáfora da complexidade não -linear  (Demo,2002) onde pulsa relação própria entre o todo e as partes , contribuiu para a visão de uma aprendizagem como fenômeno linear, onde prevaleceu a transmissão de conhecimento para dominar uma especialização  em detrimento da formação humana.
                            As repetições dessa escola sem vida excluem as grandes questões que movem a vida das pessoas e renega outras importantes faculdades humanas como emoções, sentimentos e instintos.Para barrar a visão newtoniano-cartesiana (Crema, 1988)de um universo fragmentado, instala-se de maneira progressiva um novo paradigma holístico na educação.
                             É urgente a educação recentrar o homem. No fim de sua vida, Jung (EDINGER,1984) declarou claramente a finalidade de a vida humana ser a criação da consciência: " tanto quanto podemos discernir a finalidade única da existência humana é a de avivar uma chama na escuridão do simples ser." Disse que toda a angústia atual é devido à descentralização do homem.Esse centro , chamado pelo yoga de “Consciência Testemunha”, foi a  maior contribuição  que a  tradição do yoga  deu para a humanidade:encaminhá-la à um estado de hiperconsciência.Com mais lucidez, a pessoa torna-se um sujeito ativo,  desenvolvendo melhor seu papel na sociedade tendo uma participação objetiva, pois sabendo-se quem é, aprende-se a fazer.”Potencialmente todo sujeito é não apenas ator, mas autor, capaz de cognição, escolha e decisão”(Morin,2003,p.127)
                             É notório que a tecnologia  material vem abrindo muitas portas para a humanidade e a educação ,porém ,as dádivas  não são todas boas como as pesquisas recentes de ordem física e social do impacto das mídias sociais mostram.
                              á se fala em tecnoestresse,(Schwartsmans,2012 )causado pelo uso excessivo da tecnologia  provocando  dificuldade de concentração e ansiedade. O jovem tecnoestressado também pode tornar-se agressivo ao ficar longe do computador.
Esse mau uso gera danos físicos como obesidade, secura ocular, transtorno de déficit de atenção, entre outros.
Na complexidade atual do ser humano  passando  pela ontologia, psicologia, tecnocorpos sem alma,  mentes em simbiose com as tecnologias digitais, e a inteligência coletiva conectada à nossa mente , é urgente voltarmos o foco para  o desenvolvimento de uma tecnologia  de infra-estrutura humana,alicerçando  nossa capacidade de cálculo,memória , atenção ,coordenação e atividade física por exemplo, além de promover o auto-conhecimento,  pois os computadores já nos ultrapassaram em termos de desempenho mental.
Krishnamurti, citado por Crema (1988), avalia bem o estado atual da sociedade conduzida por esse paradigma:

                                Temos o progresso técnico, sem um progresso psicológico equivalente, e por esse motivo há um estado de desequilíbrio;Um coração vazio mais
                                uma mente técnica não faz um ente humano criador; e como perdemos aquele estado criador, produzimos um mundo extremamente desditoso,
                                talado por guerras, dilacerado por distinções de classes e de raças.Essa transformação radical tem de ser efetivada desde o nível da consciência.

 Sobre a consciência, , Jung (EDINGER, 1984) fala :

                                 No nível coletivo, a consciência é o nome de um novo valor supremo a nascer no homem moderno. A busca da consciência, a "com- ciência" , une
                                 os objetivos das duas etapas anteriores da história ocidental, quais sejam, a religião e a ciência.A religião baseia-se em Eros e a ciência, no
                                 Logos.A era que agora começa a florescer proporcionará uma síntese para essa tese e essa antítese.A religião buscava a vinculação, e a ciência 
                                 buscava o conhecimento.A nova visão de mundo buscará o conhecimento vinculado. ( Edinger,1984,p. 54,55)

                                 Esse conhecimento vinculado  atende a necessidade humana de transcendência que é inerente à vida .
                                 Minha investigação nessa pesquisa abordará o  yoga na educação focando no desempenho humano, as raízes em primeiro lugar:

                                  Deixaremos as gerações futuras tornarem-se macacos apertadores de botões de computador?”É exatamente isso que corre o risco de acontecer
                                  se continuarmos a fazer delas cabeças enciclopédicas que conhecem todos os ramos do saber, mas não as raízes.Reguemos a terra da árvore da
                                  vida, não as folhas! (FLAK ,2007,p.100).



                                 A palavra Yoga, que deriva da raiz  “yuj”, significa unir ou religar,  unindo o ser humano (natureza física)com sua essência  (transcendental),pois o yoga é práxis.
                                  Entende as pessoas como seres humanos integrais, compostos de  corpo físico, mente, energia, emoção, intuição, coração e espírito.
                                  O yoga como método de experimentação científica que estuda o corpo humano e suas reações,  através da prática de sua tecnologia psicoespiritual, responde as nossas perguntas ontológicas além de construir um corpo forte e saudável.
                                  A tecnologia do yoga é psicoespiritual, gira em torno da integridade humana, pois explora o mundo interior da consciência.” Trata-se portanto de uma tecnologia ética que vê o indivíduo humano como um ser multidimensional e, acima de tudo,autotranscendente.” (Feuerstein,2003 ,p.28,29).
                                  Investigarei como a  educação com a tecnologia yogica  poderá suprir esse conhecimento vinculado citado por Jung (Edinger,1984,p. 54,55),  unindo a ciência e o Ser.
                                   Me interessei em me dedicar a essa pesquisa a fim de aliar minha  prática de 12 anos com o yoga, ( dando aulas desde  2003) bem como os benefícios  e transformações advindos dela no meu próprio corpo e na minha vida ,  com as observações que tenho feito no estágio do ensino fundamental na prefeitura, agora que iniciei meu curso de pedagogia, juntando com minhas experiências particulares de ser aluna e professora.Estudando pedagogia agora, quero aproximar o yoga da educação.
No estágio ,tenho notado que as escolas cerceiam muito os movimentos das crianças, sejam colocando-as em carteiras(inadequadas aos seu tamanhos), sejam impedindo suas expressões espontâneas.Percebe-se a indiferença e o desconhecimento das estruturas emocionais e energéticas do ser humano nessas escolas, pois não é dado o devido espaço para serem trabalhados.Visam o intelecto na transmissão de conhecimento e não querem que as outras necessidades (de movimento e emocionais, por exemplo) atrapalhem a aula!Todo movimento e emoção da criança é tratada com indiferença, e na maioria das vezes os professores ao invés de corrigirem os atos das crianças, ameaçam, castigam e intimidam  o sujeito, colaborando assim, com a baixa auto-estima e heteromia dos educandos.Há um clima de opressão estabelecido, o que penso ser um dos motivos do crescente desinteresse dos alunos.
Mas as crianças com suas pulsões exploram  o poder de ação sobre seu corpo como  uma manifestação para serem reconhecidas como sujeitos criadores , "seu desejo então, não é mais de ser reconhecida como objeto, mas também como sujeito, como sujeito que age e é dono de seus atos"(Lapierre e Aucouturier, 1986,p.45).
A presente pesquisa pretende investigar a importância do reconhecimento do sujeito na educação.Também aproximar as concepções que o yoga tem do ser humano à escola, em relação aos seu corpo físico, energético, emocional, mental e espiritual, a fim de serem exploradas novas técnicas e espaços educativos, repensando a escola tradicional, para que o aluno tenha um desenvolvimento integral.Integrar todas as necessidades humanas para a aquisição do conhecimento  se tornar mais legítimo e  prazeroso
Quero também com esse estudo aproximar a visão que o yoga tem do ser humano com autores modernos , e aprofundar a tecnologia da infra-estrutura humana, aumentando-lhe as capacidades cognitivas.
 Esse reconhecimento , acredito  que irá desenvolver-lhes a criatividade, e os envolverá numa educação para conquistarem a liberdade e a autonomia.
Penso  que a educação com a tecnologia yogica levará  o homem ao seu auto-conhecimento e a  se sentir integrado com o planeta onde vive e com todos os seres e raças, pois apesar das diferenças se conectará através daquilo que a todos une:o Ser, em forma de consciência testemunha.
A humanidade ainda está em processo de desenvolvimento, e a educação ainda é a melhor solução para um  presente e futuro melhor.


                                                                                             OBJETIVOS


  -Pesquisar conhecimentos, técnicas, ferramentas e processos yogicos como bases que contribuam para o processo educativo;
  -Comparar as analogias da filosofia e pratica yogica com importantes fundamentos e finalidades ocidentais e mundiais de educação;
  -Investigar dados comprovando os benefícios do yoga para o desenvolvimento humano ;
  -Coletar, analisar e disseminar informações sobre ao yoga na  educação;

                                                                     RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

  - A divulgação em cadernos de pesquisas ;
  - Apresentar a pesquisa  na universidade em forma de AACC;
  - Participar de congressos, simpósios e seminários de educação e tecnologia;
  - Divulgação em revistas especializadas em educação;


                                                                        METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE AÇÃO


Utilizarei :

a-Uma pesquisa bibliográfica de análise de textos  para apresentar uma fundamentação teórica   do conceito filosófico e prático do yoga e para compará-lo com conceitos educacionais ocidentais ;

1-Das crises do sujeito ao seu conhecimento: a introdução e definição  do yoga; 2- Os corpos do yoga e  as inteligências múltiplas na educação;3 - Abordagem holística do yoga e a teoria da complexidade  ; 4-Tecnologias do Yoga; 5- A proposta do R.Y.E.;6-Os condicionamentos e a liberdade em Paulo Freire e no  yoga;7-O yoga e os conceitos de fundamento da educação no Brasil e no mundo; 8-Conclusão.

b-Levantamento de dados  qualitativos através de entrevistas  e depoimentos com professores  que trabalham com yoga na educação aqui no Brasil e no exterior, e com a autora do livro "Yoga na sala de aula", do RYE;


                                                                                CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO







                                                                                                REFERÊNCIAS


CREMA, Roberto. Introdução à visão Holística – Breve relato de viagem do velho

ao novo paradigma. São Paulo: Summus, 1988.

DEMO, Pedro.Complexidade e aprendizagem -a dinâmica não  linear do conhecimento.São Paulo, Atlas, 2002.

EDINGER,Edward F.A Criação da Consciência:O mito de Jung para o homem moderno.São Paulo.Cultrix,1984.

FEUERSTEIN,Georg.A tradição do Yoga-História, Literatura, Filosofia e Prática.

São Paulo.Pensamento,2003

FLAK, Micheline.,COULON,Jacques de.Yoga na Educação:Integrando corpo e mente na sala de aula.Florianópolis:Comunidade do Saber, 2007.

SCHWARTSMAN, Annete.Tecnoestresse causa ansiedade e depressão em jovens.Folha.com.São Paulo,15 de maio,2012.Equilíbrio e Saúde. http://folha.com/no1090127

FOUCAULT,M.Vigiar e Punir.Rio de Janeiro:Vozes,1977

LAPIERRE,André.,AUCOUTURIER,Bernard.A simbologia do movimento:psicomotricidade e educação.Porto Alegre.Artes Médicas,1986.

MORIN, Edgar.A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,200

quinta-feira, 28 de março de 2013

Entrevista com Micheline Flak e Diego Arenaza
São Paulo, março de 2009.



YOGA NA APRENDIZAGEM:

muito além da educação formal


 Uma educação integral, que não se restringe à desenvolver o intelecto e formar bons profissionais para o mercado de trabalho, mas que se ocupe também da formação moral, para que as crianças se tornem adultos mais conscientes e bons de coração. Em resumo, é a isso que a yoga na aprendizagem se propõe. Mas não é só. Ela é uma metodologia, fundamentada na ciência que, de imediato, pode ser uma grande aliada no processo de ensino-aprendizagem.
Discípulo de Micheline Flak, criadora do método, Diego Arenaza é presidente do RYE (Recherche sur le Yoga dans l’ Education) [Pesquisa sobre Yoga na Educação] no Brasil e professor do Centro de Ciências da Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde criou as disciplinas Yoga na Aprendizagem I e II que ensina aos professores o método que utiliza técnicas de yoga na sala de aula, além de ser formado em filosofia pela University of California e mestre em Inglês pela UFSC. Com uma voz serena e baixa, ele me recebe com um sorriso igualmente calmo no rosto, acompanhado de Micheline que veio ao Brasil para ministrar um curso. Todo o ambiente transmite paz e tranquilidade em oposição ao nosso ritmo, geralmente, acelerado. Em poucos minutos, o clima zen me contagia e lá estou, falando baixo e calmamente. A seguir, você confere trechos desse prazeroso bate papo.

Texto: Paula Caires


Como você entrou em contato com essa metodologia, criada pela francesa Micheline Flak, de utilizar técnicas de yoga na aprendizagem?

Diego Arenaza: Eu já era praticante de yoga e professor universitário de Metodologia e Práticas de Ensino de Espanhol como Língua Estrangeira. No ano 2000 comecei essa prática e logo me apaixonei. Eu gostava de yoga e gostava de ensinar, então fui pesquisar e comecei a praticar com meus alunos. Foi tão significativo que logo fiz um levantamento com eles para saber quantos tinham gostado e vi que o yoga para a sala de aula dava lugar a uma disciplina específica. E foi o que fiz. Há seis anos criamos a disciplina yoga na aprendizagem. Ano passado, pela primeira vez, abrimos o nível dois e virou anual. Então, é uma disciplina optativa para todas as licenciaturas. Quando chega a hora da matrícula lota, porque as pessoas sentem que o sistema tradicional de ensino está falindo. Portanto, os alunos têm sede de conhecimentos diferentes e procuram esse tipo de aulas. Além disso, nossa proposta é uma educação holística, integral, e o aluno logo percebe os benefícios, assim como a relação com o professor, que é outra. É fantástico!

Como funciona esse método? Qual é a estrutura utilizada para aquisição do conhecimento?

Diego Arenaza: A técnica que utilizamos em sala de aula inclui uma série de passos que vai preparando o aluno para que a aprendizagem se aprimore. São seis etapas, baseadas nas oito de Pantajali, que vão criar diferentes condições para a aprendizagem. As etapas de Pantajali estão presentes na prática universal de yoga, mas na escola utilizamos só as seis primeiras que são: viver juntos; eliminar toxinas e pensamentos negativos; manter uma postura ereta; respirar bem e ter calma; relaxamento; e concentração em um ponto.

O que seria o “viver juntos”, que é a primeira fase?

Diego Arenaza: É pensar a sala de aula como um barco que está rumo a um objetivo, cujo capitão é o professor. Sabemos que nas escolas existem casos de violências, então, buscamos diferentes dinâmicas para enturmar as crianças e ensinar a viver juntos para que haja paz.

Dê um exemplo de alguma dinâmica que cumpra esse objetivo?

Diego Arenaza: No livro Yoga na Educação: integrando corpo e mente na sala de aula, de Micheline Flak e  Jacques De Coulon (Ed. Comunidade do Saber) tem diferentes práticas de integração. É só criar oportunidades para exercitar a convivência, como o pintar juntos, o trabalhar unidos, atividades nas quais as crianças se toquem, como pequenas massagens, etc. Com um pequeno contato físico, a rejeição e o preconceito diminuem. Um exemplo é a brincadeira do quadro: um aluno é o professor e outro é o quadro. Então, o professor escreve uma palavra com o dedo nas costas do outro amiguinho, mas primeiro, tem que apagar bem o quadro, fazendo movimento de esfregar com as mãos e aí vai escrevendo e apagando as palavras ou as letras, quando o outro descobrir o que foi escrito. Essa atividade também desenvolve a atenção e dá para trabalhar de mil formas, inventando diversas coisas.

E a segunda etapa, que é eliminar toxinas, como poderia ser aplicada em sala de aula e o que ela agrega à educação infantil?

Diego Arenaza: A aprendizagem é um desafio constante e nós estamos na Terra para aprender sempre. Mas para aprender, você tem que ter um atitude positiva. Muitas vezes, a criança diz que está com dor de barriga, mas se a indagamos um pouco, descobrimos que, na verdade, ela vai ter uma prova na escola. Esse exemplo genérico ilustra bem que quando você fica nervoso, com medo acaba ficando doente no físico também. Então, temos que trabalhar esse lado mental de que é possível, e fazê-los acreditar, ensinando-os a superar os obstáculos. Para isso, desenvolvemos pequenas técnicas para desbloquear e limpar a mente. Uma possibilidade é o exercício do lenhador: pedimos à criança que se posicione em pé com as pernas entreabertas, as duas mãos unidas, com os braços levantados, como se estivesse segurando um machado, e fazer o movimento rápido para baixo, como se fosse cortar a madeira que está no chão. O mais importante é a criança soltar a respiração ao descer os braços, junto com um grito, para aliviar aquela tensão e o frio na barriga. Os efeitos são imediatos.

E a etapa três, o que seria e como ela pode ser aproveitada em sala de aula?

Diego Arenaza: É a postura, que tem vários ingredientes. O primeiro é que se você está com a postura reta, vai respirar melhor e seu cérebro vai ser melhor oxigenado. Outra coisa é que se você está torto, daqui a dez minutinhos começa a sentir dor nas costas, e se tem dor nas costas, não consegue prestar atenção. E, finalmente, quem tem uma boa postura, tem uma melhor atitude psicológica. Se você está na vida, como aqueles adolescentes desanimados, que andam corcundas, com os pés arrastando,..isso vai se refletir no seu psicológico. Enquanto que se você tem uma postura mais confiante, você vai refletir essa postura para sua vida também.

Tem ainda a quarta etapa. Como ela se aplica na escola?

Diego Arenaza: Essa é a etapa que diz repeito à boa respiração, que tem uma relação muito estreita com a mente. Quando estamos muito estressados, a respiração fica ofegante. O contrário também é verdadeiro: ao acalmar a respiração, a mente se acalma. Para estudar é preciso ter a mente quieta, não dá para pensar em cinquenta coisas ao mesmo tempo. Através da boa respiração, você consegue ficar calmo. Além do mais, quem respira melhor, vive melhor, afinal, essa é a primeira e a última coisa que fazemos na vida. E tem ainda a quinta etapa que é o relaxamento: acreditamos que deve haver pequenas pausas na aprendizagem para recarregar as pilhas, não se pode ficar o dia inteiro trabalhando, trabalhando sem parar.

Na proposta de ensino integral, isso seria fundamental, então?

Diego Arenaza: Para qualquer um de nós é necessária essa pausa. O relaxamento é vital para todo mundo e em termos da aprendizagem é essencial, assim como para crianças hiperativas. Por exemplo, a criança chega do recreio, acabou de jogar bola, de brincar com os colegas, está até ofegante, suado. A professora chega e diz “calma pessoal, vamos estudar o poema de Camões”. Não tem como! Vai ficar aquela gritaria e os alunos não terão um bom aproveitamento. Entretanto, se você faz uma técnica de respiração e relaxamento, você consegue fazer uma transição, para que a criança fique mais disposta e entre no clima do novo momento que está sendo proposto.

E qual a importância da concentração em um ponto, que é a sexta etapa?

Diego Arenaza: Ela é o ponto culminante. Uma vez que a mente está quieta, tranquila, a assimilação de conhecimento se realiza por diferentes práticas, desde mandalas até às técnicas de visualização, que são muito comuns nessa metodologia. Consiste em aprender por meio dos sentidos internos. Você pode reproduzir internamente uma música, um cheiro, qualquer coisa que remeta aos cinco sentidos.
Então, a gente apresenta uma matéria, faz um pequeno relaxamento, conta uma história e pede para as crianças imaginarem a história em suas mentes, tentando ativar o máximo de sentidos internos, pedindo para pensarem no cheiro, nas cores, nos formatos, nas texturas, enfim, quanto mais sentidos interiores são aplicados no processo de aprendizagem, mais o conhecimento fica sólido.

A história a ser contada nessa técnica deve ser alheia ou atrelada ao conteúdo?

Diego Arenaza: Ao conteúdo. Em vez de usar a memória, reproduz internamente. Se os alunos estão estudando o Amazonas, por exemplo, o professor mostra as fotos, passa as informações e depois da apresentação tradicional, conta uma história de uma viagem a Amazonas e vai descrevendo, enquanto a criança reproduz internamente os cinco sentidos.
                                            
No começo as crianças se sentem inibidas em fazer algum tipo de exercício?

Diego Arenaza: Depende. Em um grupo com estudantes de 6 anos de idade, por exemplo, deve-se trabalhar de uma maneira bem lúdica, porque logo as crianças sentem os benefícios e se aplicam mais. E há uma coisa, em particular, que tem modificado muito minha forma de ensinar, é que o aluno percebe que o professor não está só se preocupando com a matéria, mas também com a pessoa, então o relacionamento é outro e fica mais fácil todos contribuírem para o bom andamento do que é proposto.

Por essa perspectiva, um dos benefícios da yoga na aprendizagem é que ela ajuda a quebrar a frieza da sala de aula?

Diego Arenaza: Exatamente. A aprendizagem é uma relação direta entre o objeto, o conhecimento e um sujeito, tendo o professor como ponte. Normalmente, o educador dá muita importância à matéria, mas se esquece da pessoa que está aprendendo, que é o mais importante, porque se a pessoa não está bem, com dor no corpo, ou triste, ou estressada, como vai aprender bem? Então a gente se ocupa da matéria, mas também do sujeito. Essa é a grande diferença.

Quais são os outros benefícios dessa metodologia para o aluno?

Diego Arenaza: Melhor relacionamento interpessoal, na dinâmica do grupo, na capacidade de concentração, melhora as afirmações e o estado de ânimo. Pequenas doses homeopáticas de exercícios acordam os alunos quando estão “dormindo”, acalma-os quando estão agitados, relaxa-os quando estão cansados e melhora a mente quando estão deprimidos.

Essa prática vai ao encontro da pedagogia do amor, da qual nos fala Paulo Freire?

Diego Arenaza: As coisas estão se interligando sozinhas. Recentemente fui procurado por uma aluna que está escrevendo um trabalho de conclusão de curso de Graduação (TCC)  sobre yoga e Paulo Freire.

Quais são as últimas etapas de Pantajali e porque não são usadas em sala de aula?

Diego Arenaza: Elas estão relacionadas à meditação. Como as escolas públicas brasileira e francesa são laicas e essas duas últimas etapas são relacionadas mais ao espiritual, não as incluímos nas salas de aula. Mas na minha opinião, o que está faltando nas escolas é um trabalho fundamentado em valores, porque hoje a filosofia da educação é a de mercado: educar as crianças para se dar bem profissionalmente, ou seja, baseada no consumo.

Existem vários tipos de yoga? Se sim, qual seria a utilizada na educação?

Diego Arenaza: Basicamente, a yoga é uma só. No entanto, foram desenvolvidas diferentes linhas de prática nas escolas de yoga, algumas são mais dinâmicas, outras tradicionais, mas no fundo, é uma coisa só.

O que é extamente o RYE (Pesquisa da Yoga na Educação)?

Diego Arenaza: É uma associação que ensina, divulga e faz eventos para professores, com objetivo de expandir as técnicas de yoga aplicadas ‘a aprendizagem. É uma linha desenvolvida pela Micheline Flak, na França, que agora está em vários países da Europa, no Uruguai, no Chile e agora no Brasil e tem toda uma metodologia. É uma escola mesmo. A nossa educação é totalmente focada no plano mental. Na proposta do RYE, acreditamos que as pessoas não aprendem com a mente, mas também com o corpo e com as emoções. Porque se o seu corpo está cansado, não tem condições de aprender. Então, trabalhamos a criança como um todo: mente, corpo e emoções, para estabelecer a integração e o equilibrio entre os três. O aluno não é só uma cabecinha ou um dedinho.

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Micheline Flak é doutora em letras, professora de inglês e pesquisadora do Centro de Formação Docente no Centro de Ciências da Educação da Universidade da Sorbonne, em Paris. Ela descobriu os benefícios do yoga na educação durante uma aula, no início dos anos 70, quando utilizou algumas das técnicas realizadas em suas práticas de yoga para acalmar a turma e passar o conteúdo da disciplina. A partir de então, começou a pesquisar e aplicar essa prática como recurso pedagógico e, em 1978, fundou o RYE França e escreveu, em parceria com o professor Jacques de Coulon, o livro Crianças que triunfam. O yoga na escola.
Já cansada, depois de uma longa viagem da França para o Brasil, somado a mais um dia inteiro de curso, Micheline, ainda assim, fez questão de nos atender para contar um pouco da sua experiência na estruturação e aplicação dessa metodologia. Confira a seguir.

Dentre tantos benefícios que a yoga pode agregar à educação, qual você considera o mais significativo?

Micheline Flak: A prática de Yoga é muito boa para a mente e para ajudar as crianças a aprender melhor e, consequentemente, a ter notas melhores, e os pais ficam muito felizes com isso. Esse resultado em notas está relacionado ao coeficiente de inteligência (QI), mas não é o suficiente para o desenvolvimento das pessoas, porque o ser humano não pode ser definido só pelo QI. Existem muitas pessoas inteligentes, que têm mentes brilhantes, mas falta alguma coisa. E o que falta é o coeficiente emocional (QE). O coeficiente intelectual e o coeficiente emocional são duas coisas diferentes. O que podemos ver hoje em dia é que as crianças estão muito distraídas, a violência está cada vez mais presente e as dificuldades de relacionamentos entre as crianças, com os pais, com os professores são marcantes. A yoga pode ajudá-las a controlar suas emoções, seu estresse, sua ira e sua raiva e tudo isso é possível através da respiração, que pode ensinar a se ter calma, relaxamento, controlar as tensões físicas através das posturas e, assim, serem crianças melhores. Então, a yoga não ajuda apenas no aprendizado formal, mas na formação de cidadãos também. A inteligência intelectual não faz um mundo melhor. Às vezes, usa-se a inteligência até para destruir. Eu penso que a yoga pode mostrar que o sucesso não está só no intelecto e ensinar as crianças a ter bom coração. Isso é o sucesso.

Desses 39 anos de yoga na educação, o que você considera como maior avanço?

Micheline Flak: É o fato da yoga estar se espalhando pelo mundo. A cada dia, mais e mais pessoas estão praticando yoga, seja na América do Sul, nos Estados Unidos, na Tailândia e até no Irã. A maioria dos praticantes tem filhos e dizem que se sentem melhor, então, imagine as crianças praticando yoga, que maravilha seria! O que precisa agora é sabedoria.

A que se deve esse sucesso?

Micheline Flak: O medicamento está ao lado do mal. A natureza quer o equilíbrio e a yoga traz esse equilíbrio para o mundo que está pesado, uma selva. O yoga está cultivando na selva. Mas ainda vai se levar um tempo até que o yoga seja implantada oficialmente nas escolas.

O fato de muitos associarem a yoga a uma religião pode ser a razão dela não estar nas escolas?

Micheline Flak: Talvez sim. Mas o yoga não é uma religião. O yoga tem fundamentos cientificos, já foi comprovada a mudança nas frequências das ondas mentais e nas batidas do coração, que a respiração pode causar, pois é ela que regula todos os parâmetros do corpo. Então, não é religião. O que falta é mudar a mentalidade das pessoas que decidem, porque para introduzir o yoga na escola não precisa de nenhuma máquina, nenhum equipamento, gasta-se apenas o suficiente para remunerar algum professor. Só uma coisa é necessária: treinar pessoas.

A prática da yoga na educação pode beneficiar as crianças que têm necessidades educacionais especiais, como quem tem déficit de atenção ou hiperatividade?

Micheline Flak: A hiperatividade está em todos os países industrializados e eu acredito que ela seja consequência da vida agitada dos dias modernos e da tecnologia, que vem se desenvolvendo sem obstáculos, sem resistências, sem nenhuma discussão sobre os efeitos dela sobre a mente. O yoga traz uma correção para isso, porque desperta a consciência, a atenção e a calma ao trabalhar com movimentos lentos.
As crianças hiperativas são ansiosas, principalmente, quando as mães o são. Por isso, quando os pais praticam yoga, é visível que as crianças também se desenvolvem e ficam mais tranquilas.
Nós acreditamos que os médicos possam ajudar essas crianças, mas a medicina não é a única solução. É preciso mudar o estilo de vida, como a alimentação e a capacidade de concentração, que podem ser aprimoradas com o yoga.

Por que a meditação não pode ser usada com as crianças, enquanto o relaxamento é recomendado?

Micheline Flak: Antes de a criança nascer, fica nove meses dentro da mãe. Quando ela nasce, quer conhecer o mundo que está aqui fora, quer dançar como o Michael Jackson (risos)... não me diga que quando você era criança queria meditar? Não, as crianças querem jogar vídeo games, brincar e se divertir e temos que respeitar a energia e a natureza delas. Já o relaxamento pode ajudar quando a criança está nervosa, porque não adianta dizer para ela não fazer isso ou aquilo quando ela está brava. Você tem que esperar ela se acalmar e, então, conversar, fazê-la lembrar o que causou aquela situação de conflito e incentivá-la a refletir sobre o ocorrido para tentar achar uma forma melhor para resolver a questão, ou seja, a criança pode meditar sobre sua conduta, mas não a meditação como é feito na prática de yoga. Ainda assim, o relaxamento com as crianças não deve durar mais que cinco ou seis minutos, porque elas vão fundo muito rapidamente e se for feito por mais tempo é muito difícil fazê-las voltarem. Ou seja, não podemos querer que a criança seja espiritualista, por isso, a meditação não é indicada.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


            A  ESCOLHA  DA  PAZ
 Se a paz é de fato aquilo que desejamos, então devemos escolhê-la. Se ela fosse mais importante para nós do que qualquer outra coisa e se nós nos reconhecêssemos de verdade como um espírito em vez de um pequeno eu, permaneceríamos sem reagir e num absoluto estado de alerta quando confrontados com pessoas ou circunstâncias desafiadoras. Aceitaríamos de imediato a situação e, assim, nos tornaríamos um com ela em vez de nos separarmos dela. Depois, da nossa atenção consciente surgiria uma reação. Quem nós somos (consciência) – e não quem pensamos que somos (um pequeno eu) – estaria reagindo. Isso seria algo poderoso e eficaz e não faria de ninguém nem de uma situação um inimigo.
http://dharmalog.com/2013/02/26/o-que-nossas-acoes-revelam-um-criterio-para-descobrir-ate-que-ponto-nos-conhecemos-por-eckhart-tolle/